quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A HISTÓRIA DO RÁDIO PERNAMBUCANO


ANOTAÇÕES  PARA A HISTÓRIA DO RÁDIO EM PERNAMBUCO



                                                          

                                                                    Maria Luiza Nóbrega de Morais

                                                                    André Luiz de Lima

                                                                    Bárbara Marques



Embora se encontrem vários trabalhos que buscam recuperar a memória do rádio em Pernambuco, ainda é pouco o que se tem escrito em relação ao que ele representou para a região e certamente para a história da radiodifusão brasileira.

Os arquivos foram destruindo-se ao longo dos anos. Restam acervos particulares, depoimentos na Fundação Joaquim Nabuco, algumas revistas e arquivos de jornais.

Este trabalho propõe-se a colaborar com outras informações registrando-as a partir de lembranças de radialistas que fizeram e/ou ainda fazem o rádio pernambucano. Entre outros, foram entrevistados os seguintes radialistas: Cleto Beltrão, Edilson Cavalcanti, Fernando Castelão, Francisco Dias, João Santos, Juracea Castelar, Luiz Maranhão Filho, Marcos Leite, Marise Rodrigues, Paulo Santiago, Ricardo Pinto, Adilson Rocha, Manuel Malta, Rui Cabral, Fernando Távora, Geraldo Lopes, Alberto Lopes, Édson de Almeida, Luiz Bandeira, Geraldo Freire, Reginaldo Silva, Maria do Carmo Sodré, Manoel Mendes de Lira, Genivaldo di Pace, Evaldo Ferreira, Pedro Guedes, José Felix Amaral, Marcos Araújo, Valdeci Neiva, Rosilda Braga, Carlos Benevides, Jair Duarte Gama, Letícia Rodrigues, Norma Pontes, Rosa Maria, Paulo Jansen, Wellington Bezerra, Antonio Menezes, José Maria Cavalcanti e Édson Araújo.



Trabalho desenvolvido com alunos das disciplinas Metodologia da Pesquisa em Comunicação 1 e 2, no 2º e 3º período de Radialismo e Publicidade.  Participaram da sua elaboração, os alunos Cynthia G. Falcão, Cristiane Guedes, Fabíola Santos, Jannine L’Amour, Patrícia Ramos, Pedro P. Guimarães, Sérgio Samico, Kemine Sandri, Manuella Wanderley, Michelle Kovacs e Nadezhda Batista. Este trabalho centra seus interesses no período que compreende a segunda metade do século XX.

Coordenadora do Projeto: Construção da História da Mídia em Pernambuco, vinculado ao Grupo de Pesquisa História e Imagens da Comunicação. Universidade Federal de Pernambuco/Departamento de Comunicação Social.
RADIO CLUBE DE PERNAMBUCO

A Rádio Clube de Pernambuco começa como um clube de rádio em 1919 mas só a partir de 1923  organiza-se  como emissora.
Na década de 20, a programação consiste basicamente de música e ruídos. Eram transmissões avulsas, sem hora certa, os ouvintes guiavam-se pela programação divulgada nos jornais. A rádio transmite operetas, palestras de professores e declamações de poesias.
Na década de 30, vai-se profissionalizando pela própria experiência mas principalmente pela entrada do investimento publicitário. Muitos outros fatores entretanto contribuíram para o aperfeiçoamento do rádio. Com o fim do cinema mudo, muitos músicos ficam desempregados. O início da II Guerra traz problemas para artistas de teatro que tinham muitas dificuldades para viajar. Esses músicos e artistas desempregados trazem um reforço considerável para a emissora que passa a contar então com um quadro de profissionais diversificado e de muita qualidade. Com músicos, atores, poetas e jornalistas, a Rádio Clube torna-se uma grande escola de rádio.
Com o final da guerra, os Diários Associados começam a pressionar para comprar as ações da rádio, fato que altera bastante a vida da emissora. Nesse período, surge a Rádio Jornal do Commercio que seria sua maior concorrente durante muitos anos. Apesar dos contratempos, a Rádio Clube mantinha uma programação de qualidade.
O cast da emissora fazia uma programação eclética com jornalismo, música, auditório, novela e humor. Nos anos 50, faz programas marcantes como Pernambuco você é meu, com Aldemar Paiva, Variedades Fernando Castelão, entre outros. No final da década, além da concorrência, enfrenta vários problemas: a invasão das multinacionais do disco e a decadência das gravadoras locais, a transmissão da emissora para os Diários Associados e ainda a saída de muitos artistas que buscam o sul do país em busca de maiores oportunidades para desenvolver  o seu trabalho.
A chegada da TV nos anos 60, leva seus artistas, apresentadores e anunciantes. Alguns programas ao vivo e novelas ainda resistem por algum tempo. No fim dos anos 60, a emissora tenta uma linha de trabalho voltada para o jornalismo e o esporte.
A década de 70 caracteriza-se como um período sem grandes novidades. Na ocasião o programa de maior audiência é o horóscopo de Omar Cardoso. Em fins de 1978, a emissora sofre um incêndio que destrói seus arquivos.
Com a implantação das FM’s na década de 80, a emissora passa a investir mais em jornalismo, esporte e prestação de serviços.
A despeito do percalços, a Rádio Clube é uma emissora respeitada pelo seu pioneirismo e pelo esforço contínuo para adaptar-se às exigências do mercado.

RÁDIO JORNAL DO COMMÉRCIO

Inicia-se em 20 de abril de 1942, a idealização da mais potente, aperfeiçoada , luxuosa e completa emissora de rádio das Américas do Sul e Central. Na Estrada de Santana, onde ficariam os transmissores, seria construído o Palácio do Rádio que levaria aos quatro cantos do mundo a voz da Rádio Jornal do Commercio. (RJC).
Inúmeras circunstâncias, no entanto, retardaram a inauguração do gigantesco empreendimento. Paixões políticas injustificadas, incompreensão de autoridades diversas, fatores de caráter pessoal, que não deveriam influir, privaram a população de ver instalada há mais tempo, a potente emissora.
A concessão deveu-se aos interesses de autoridades civis e militares em dotar a região Nordeste de uma emissora que se propusesse a investir na cultura e servir a defesa nacional. Com o intuito de atender a esta última finalidade e de agradecer o empenho do exército, a emissora cria um programa diário - Hora do Exército - dedicado às Forças Armadas para a divulgação de informações do seu interesse.
Em 04 de julho de 1948, vai ao ar a Rádio Jornal do Commercio com o prefixo PRL 6 nas ondas médias e ZYK 2 e ZYK 3 nas ondas curtas. Cerca de um mês antes da inauguração, a emissora realiza experiência com um de seus transmissores de ondas curtas, irradiando simultaneamente em ondas médias de 780 KHZ. Posteriormente, efetua irradiações com seus dois transmissores de freqüência modulada. Nessa fase experimental, o locutor Ernani Seve anuncia, nas ondas médias, o prefixo em português e Janet Slater Swaton transmite em inglês nas ondas curtas.
A emissora vai ao ar com o programa Protofonia anunciando a sua inauguração com o Presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, artistas nacionais e internacionais, políticos, autoridades e com ampla cobertura da imprensa nacional.
Assumindo-se como uma “rádio espetáculo”, a RJC pretendia ser um marco na radiodifusão nacional, era a voz de Pernambuco Falando Para o Mundo. Contava com uma equipe técnica de aproximadamente quarenta pessoas chefiada por José Maria Carneiro de Albuquerque, auxiliado por um engenheiro da Marconi que veio montar os transmissores e o estúdio da rádio, estes localizados na Rua Marquês do Recife.
A programação inaugural inicia-se exatamente meio dia e estende-se até meia noite irradiando programas montados, de aproximadamente trinta minutos, de caráter evocativo, distintivo, patriótico e musical. Protofolia, Senzala, Canaviais, Nordeste, Sambologia, Farrapos, Ritmo, Inconfidência, Madrigais, entre outros, eram programas que homenageavam o rádio, a imprensa, a indústria, a música folclórica, o povo gaúcho, o jazz, a república dos Palmares, a BBC, etc...
A direção geral da emissora estava a cargo do Dr. Fernando Pessoa de Queiroz assessorado por Caio Souza Leão, na função de gerente. A organização da empresa estruturava-se em vários departamentos.
Departamento Musical: composto pelas Orquestras Sinfônicas sob a regência maestro Fittipaldi; Orquestra Jazz Paraguari sob a direção de Manoel Oliveira e a Orquestra Regional de Luperce Miranda, Wilson Santos, Ernani Reis e Jackson do Pandeiro.
Departamento Artístico: dirigido por Teófilo de Barros Filho e composto por atores, cantores, locutores, apresentadores e músicos, entre os quais: Ernani Seve, Aluizio Pimentel, Jairo de Barros, Hildemar Torres, Dirceu Matos, Maria da Graça, Manuel Malta, Fernando Távora, Geraldo Lopes, Francisco Barbosa, Nelson Pinto, Osman Lins, Expedito Baracho e Luiz Bandeira.
Departamento de Radioteatro: trabalhava em contato com o Departamento Artístico e era dirigido por Lima Filho. Seus principais produtores eram Alberto Lopes, Joel Pontes, Eronildes Silva e Osman Lins.
Departamento Técnico: dirigido por Paulo Pessoa de Queiroz, auxiliado pelos engenheiros Harry W. Wolden e Ulo Vilns, ambos vindos de Londres.
Departamento Comercial: dirigido por Luiz Vieira. De vital  importância para a empresa, esse departamento contava com patrocinadores como Casas Ramiro Costa, Fratelli Vita, Coca-Cola, Brahma e Antarctica.

A disputa pela audiência

Com a inauguração da Rádio Jornal do Commercio inicia-se um novo período no rádio pernambucano. Os programas passam a ser produzidos com mais cuidado e a participação de grandes nomes do eixo Rio-São Paulo faz-se presente no cotidiano do rádio pernambucano.
Nesse período, quando as rádios brasileiras ainda utilizavam o quarto de hora, onde o cantor se apresentava durante quinze minutos entremeados por mensagens publicitárias, a RJC oferecia programas de meia hora com uma temática bastante diversificada. Tinha o suporte de um cast permanente e a colaboração de intelectuais pernambucanos como Waldemar de Oliveira, Mário Sette, Osman Lins, Ubirajara Mendes e Emílio Duarte.
Acirrava-se a disputa entre a Rádio Jornal do Commercio e a Rádio Clube de Pernambuco. Como a RJC não conseguiu concretizar a proposta de formar um cast com novos artistas, propõe-se a trazer para a empresa, artistas locais já consagrados pelo público através da  Rádio Clube. Entre outros, trocam de emissora, Ernani Seve, Luiz Bandeira, Juracea Castelar e Fernando Castelão. Enquanto a Rádio Clube transmite duas apresentações diárias de radionovelas, uma ao final da tarde e outra à noite, a RJC veicula em quatro horários distribuídos ao longo do dia. Posteriormente, este número amplia-se para oito audições. A duração de cada capítulo era de quinze minutos e o tempo médio de duração da novela era cerca de quatro meses. Essas novelas, a princípio, eram compradas da Rádio Nacional, escritas por autores como Mário Lago, Juraci Camargo, Raimundo Lopes, etc... e apresentadas ao vivo pelo elenco local que seguia na íntegra o script original. Mais tarde, autores pernambucanos que faziam parte do cast da emissora começam a escrever. São eles: Alberto Lopes, Nelson Pinto e Osman Lins. Entre as radionovelas mais aplaudidas, citam-se Senzala, de Juraci Camargo; A luz vermelha, de Raimundo Lopes e Desiludida de Alberto Lopes. Outra novela de sucesso foi O maestro, escrita e produzida por Fernando Castelão. Dos anos 50, destacam-se  Primavera, Onde a terra acaba,  A professora e Não me queiras tanto.
Na década de 60, as novelas passam para a TV Jornal do Commércio e a emissora perde um segmento da maior importância na sua fase áurea.
Os programas de auditório foram fundamentais para o sucesso da RJC. Entre outros, destaca-se Variedades Fernando Castelão que vem transferido da Rádio Clube juntamente com o produtor e permanece no ar entre 1954 e 1957. Os programas de auditório eram geralmente apresentados pelo próprio produtor e exibiam músicas, brincadeiras, atrações, quadros humorísticos, etc... Dos programas de calouros, realizados também no auditório, surgiram bons intérpretes. Um grande incentivador deste tipo de programa foi Ernani Seve que estreou no programa dominical Está na hora, no dia 11 de julho de 1948. Apresentavam-se nos programas, nomes destaque no cenário artístico nacional, como Orlando Silva, Sílvio Caldas, Carlos Galhardo, Francisco Alves, etc... Do cenário internacional, várias foram as orquestras, cantores e artistas de cinema que visitaram a emissora. Entre outros, Bievenido Granda e Rosita Luna fizeram grande sucesso.
Peça fundamental na programação da Rádio Clube de Pernambuco, o Repórter Esso passa para a Rádio Jornal do Commercio em janeiro de 1949, na voz de Mário Teixeira. A transferência ocorre em função da audiência, da qualidade técnica e do cast da RJC, requisitos exigidos pela direção da Esso, no Brasil, para patrocinar as emissoras. Inicialmente, irradiado em quatro horários no decorrer do dia, o Repórter Esso dominava a audiência. O pernambucano reunia-se com familiares e amigos diante do seu rádio para ouvir atentamente as notícias. Em março de 1952, Édson de Almeida substitui Mário Teixeira que sai da emissora por falta de acordo salarial. Édson de Almeida permanece como apresentador exclusivo até o Repórter Esso ser extinto em todo o Brasil.
Na década de 50, com a inauguração da Rádio Tamandaré, a Rádio Jornal do Commercio busca uma identificação maior com a cultura regional.
Durante o período áureo da emissora, F. Pessoa de Queiroz trabalhava com afinco em busca de recursos. Dono de 90% do capital da Empresa Jornal do Commercio, lançava ações para o público, para industriais e latifundiários da região com o objetivo de conseguir recursos para cobrir os custos da rádio. Investia-se muito nos programas de auditório, nos equipamentos e principalmente no cast. A emissora não só trazia muitos artistas de fora mas também executava folias carnavalescas. A direção comercial desdobrava-se em busca de patrocinadores. O empresariado local era conservador e não acreditava na publicidade nem na penetração do rádio.
No período da ditadura, a emissora mantém-se eqüidistante do processo político. Por haver sofrido perseguições na Revolução de 30 ou por compromissos políticos assumidos na época, toda a empresa posiciona-se absolutamente de acordo com o regime. Em 1966, assume o comando da Empresa Jornal do Commércio, Paulo Pessoa de Queiroz que investe numa emissora de televisão em Salvador e para isso desestrutura a empresa, iniciando uma série de problemas e uma longa crise que se estende por vários anos. No aniversário de 20 anos da emissora e com o investimento direcionado para a televisão, já se observam os sinais de declínio da Empresa  Jornal do Commércio.
Em 1974, é decretada a intervenção na empresa e Alcides Lopes é nomeado para administrar a crise. Sem capital de giro e pressionado por dívidas, ele busca compradores.
Ao longo de dezoito anos de dificuldades, a empresa foi cogitada por muitos grupos. Os funcionários enfrentaram tempos difíceis passando por crises administrativas e a programação da RJC oscila com as  dificuldades.
Na década de 80, com a compra da empresa pelo Grupo Bom Preço, a emissora reorganiza-se e opta por uma programação prioritariamente informativa produzindo noticiários, programas esportivos, programas de variedades e crônica policial.
Em quatro décadas, a Rádio Jornal do Commercio produziu inúmeros programas importantes: Luar do Sertão, Música Itálica, Enquanto a cidade não dorme, Fantasias Nordestinas, Lanterna azul, Salve a retreta, Mesa redonda no ar e muitos outros produzidos por nomes da maior importância para o rádio pernambucano, como Manuel Malta, Rui Cabral, Djalma Miranda, Carlos Basto, Luiza de Oliveira, Paulo Duarte, etc...

RÁDIO TAMANDARÉ

Em 31 de março de 1951, Assis Chateaubriand inaugura a Rádio Tamandaré com uma festa realizada no Cinema Polytheama. Sua programação é eclética: programas de auditório, cantores, orquestras, radioteatro, novelas e futebol. As novelas e a maioria dos programas são produzidos ao vivo, dentre os quais: Miscelânea Sonora (musical), O céu é o limite (auditório), Doze é o limite (infantil), Festa no Varandão (musical). Deste período, destacam-se nomes como Alba de Andrade, Arlete Sales, Carmen Tovar, Luiz Maranhão, Gordurinha e José Santana.[1]
O início dos anos 60 marca também um período difícil para a emissora. A televisão leva não só quase todo o elenco artístico mas também a audiência noturna. Para sobreviver, a RT sofre uma mudança estrutural perdendo as características iniciais. Adota o slogan Música somente música e, em seguida Tamandaré: maximúsica.
O público sofre um impacto com a mudança. Primeiro, porque exige uma adaptação ao novo estilo e, segundo, porque a emissora inicia essa fase tocando muita música americana. Na intenção de implantar uma nova imagem, eminentemente musical, a RT envia aos Estados Unidos um diretor de programação, Antiógenes Tavares, que ao voltar cria uma programação musical americanizada. Passando o impacto inicial, a rádio consegue uma maior aceitação do público e vai-se caracterizando pelo seu estilo musical. Direciona sua programação para a elite e fica conhecida como Rádio Classe A. Além da música americana, toca Chico Buarque, Gal Costa, Maria Bethânia, Belchior, Geraldo  Azevedo e outros artistas da mesma linha. Dentro da estratégia Música somente música chega a tocar dezoito músicas por hora, o que exige um grande repertório e se torna conhecida como um dos maiores acervos de discos do rádio brasileiro.
Os anos 70 consagram o estilo musical da emissora. Tamandaré é sinônimo de música. Essa imagem que leva anos para se impor, é rapidamente abalada com a chegada das FM´s, música com melhor qualidade sonora.
A Rádio Tamandaré populariza-se, desvia de sua proposta elitista e se aproxima do povão. Passa a tocar música considerada brega e implanta um acanhado jornalismo centrado em utilidade pública, como por exemplo, o Mar terra que vai ao ar, de hora em hora, informando a chegada e partida de navios, ônibus e aviões.
Depois de haver perdido o contato com o público característico das emissoras AM, busca reencontrá-lo oferecendo programas como Vox Populi que faz sucesso por premiar o ouvinte e permiti-lo solicitar sua música preferida.
Em 1978, ocorre um incêndio nas suas dependências e a emissora é transferida para o bairro popular de Peixinhos.
Na década de 80, a RT é vendida ao Grupo Édson Queiroz e sofre uma reestruturação total. No ano de 1984, transfere suas instalações para um moderno prédio na avenida Marechal Mascarenhas de Moraes, no bairro da Imbiribeira, renova todo seu equipamento técnico e a estrutura de sua programação volta a ser eclética. A emissora recebe uma injeção de capital para a implantação de um departamento esportivo e um jornalismo mais atuante. São contratados grandes nomes do radiojornalismo esportivo, tais como Ivan Lima, Luiz Cavalcanti e Rubem Souza. Estrutura-se o departamento de jornalismo para fazer coberturas ao vivo, diretamente das ruas, adquirindo-se cinco viaturas para fazer as reportagens. Apesar do esforço, a emissora não melhora a audiência e, em 1989, volta a ser musical.
No início da década de 90, são extintos os departamentos de futebol e jornalismo reduzindo as suas atividades a apenas informes jornalísticos. Em setembro de 1994, foi vendida aos empresários Luiz Cavalcanti Lacerda, Luiz Alberto Lacerda e Serafim de Sá Pereira. Foi transferida novamente para o bairro de Peixinhos e arrendou o espaço de sua programação para a Igreja Universal do Reino de Deus por um período de aproximadamente 3 anos.

RÁDIO CONTINENTAL

Em 15 de junho de 1958, Recife recebe as transmissões dos jogos da Copa do Mundo. Surge a Rádio Continental que entra no ar em convênio com a Rádio e TV Continental do Rio de Janeiro.
No Recife, o estúdio funciona na Rua da Palma ocupando cerca de doze salas do quarto andar do Edifício Ouro Branco, no centro da cidade. Os transmissores localizam-se no bairro de Jardim São Paulo.
Os programas que mais marcaram a emissora foram: Telefone pedindo bis que inicia, aqui em pernambuco, a participação popular através do telefone. Outros programas de sucesso: Festival Imperatriz e Festival de Sucessos. Nesse período, conta com profissionais como Fernando Freitas, Antenor Aroucha, Zelino Manzela, Fernando Silva, Jorge Augusto, Édson Lima, Neli Moraes, Reginaldo Santana, Jane Gonçalves e Rubens Barbosa. Os cantores regionais como Reginaldo Rossi, Adilson Ramos e Leonardo eram presenças constantes e contribuíram bastante para o sucesso da emissora.
Com a implantação da TV, cai consideravelmente a audiência noturna. Na década de 60, a programação é musical adotando o esquema “duas músicas / dois anúncios” concorrendo com a Rádio Tamandaré.
Na década de 70, acirra-se mais a concorrência e a emissora perde audiência e anunciantes. Em 1977 é arrendada aos evangélicos.
Na década de 80, as FM´s marcam presença no mercado. A concorrência aumenta a crise na emissora que se retira do centro da cidade e constrói seus estúdios no terreno onde se encontravam os transmissores.
Na década de 90, sobrevive de arrendamento de todo seu horário. De 1992 a 1994, a arrendatária é a Igreja Petencostal Deus é amor. Desse período até princípio de 1996, a arrendatária é a Igreja Universal do Reino de Deus e posteriormente a Legião  da Boa Vontade.

RÁDIO CAPIBARIBE

Em 1957, Arnaldo Moreira Pinto, após a venda da Rádio Clube para os Diários Associados, reune-se com seu irmão Oscar Moreira Pinto, D. Antônio Almeida de Moreira Júnior (Arcebispo de Olinda e Recife), os industrias Miguel Vita, Cândido Vita Sobrinho, entre outros empresários da época, resolvem fundar a Rádio Capibaribe que teve sua concessão assinada pelo Presidente Juscelino Kubitschek.
Em meados de 1960, entra no ar em caráter experimental com os transmissores e um estúdio provisório situados na rua Coronel Ribeiro Sena, no bairro do Cajueiro, de onde falava a locutora Rosana Camargo. Em 17 de dezembro, a rádio é inaugurada com a leitura de uma crônica pelo locutor Genivaldo Di Pace. A transmissão é feita através da sistema Link e o equipamento é um transmissor PEB de 5 kw operando numa freqüência de 1200 KHZ.
A programação é musical, informativa e de prestação de serviços que se estende de 6 horas da manhã até meia-noite.
Em 1963, a emissora populariza-se por exigência dos anunciantes, entra a programação esportiva, o radioteatro, a crônica policial e os repórteres de rua. Um programa de destaque na época, é Bar da noite, apresentado por Almeida Silva, um programa de estúdio com uma sonoplastia que o caracteriza como programa de auditório.
Em 1965, com a Jovem Guarda, adota um estilo de programação semelhante a Jovem Pan de São Paulo, e adota o nome Jovem Cap direcionando sua programação ao público jovem. Destacam-se os programas: Eu Show R.N., comandado por Ribas Neto, e Jovens de Vanguarda, do locutor Ari Moreira.
Na década de 70, a emissora entra em declínio e tenta retomar o seu prestígio, por volta de 1977, com a criação do programa O Som do Poder Jovem que apresenta música pop nacional e internacional de boa qualidade. O nome fantasia Jovem Cap é retirado e o símbolo da emissora passa a ser Jimi Hendrix.
Outro programa do período é o Time da vassoura, comandado por Geraldo Freire, assumidamente popularesco,  que conquista a audiência popular. O time da vassoura é formado por motoristas de táxi e as ouvintes, geralmente domésticas, participam e torcem animadamente.
O principal acontecimento que marca a emissora na década de 80, é um furo de reportagem onde ela divulga, às sete horas da manhã, o gabarito da prova de português do vestibular de 1986 que seria aplicada uma hora mais tarde. O episódio comprova a fraude e em conseqüência o CESESP, órgão responsável pelo vestibular, é fechado.
No início da década de 90, a emissora se mantém com dificuldade. A programação é bem popular, há um programa infantil Big Show apresentado por Edi Anselmo.
Ainda na década de 90, desenvolve o Projeto Pernambucanidade liderado pelo compositor Marcílio Lisboa que visa valorizar o artista da terra e apresenta shows itinerantes nos bairros populares e nas estações de metrô. Durante a manhã e a tarde apresenta programas populares, A verdade do povo e Capibaribe show,  e produz algumas inserções de micronotícias ao longo do dia. O horário noturno das 20h às 06h da manhã é arrendado à Igreja Pentecostal Deus é Amor.

RÁDIO GLOBO

Em 1962, Hosano de Albuquerque Braga e Júlio Gerson de Carvalho fundam a Rádio Repórter. A proposta é integrar uma rede de emissoras na região metropolitana do Recife, junto com a Rádio Relógio de Paulista e outra emissora em São Lourenço da Mata.
Funciona inicialmente no bairro Bomba do Hemetério e pretende ser essencialmente jornalística. A falta de estrutura e as dificuldades financeiras não permitem viabilizar a proposta e a emissora funciona com uma acanhada programação eclética.
Aproximadamente em 1964 é vendida à Organização Vítor Costa. A programação continua a mesma acrescida de uma equipe esportiva. Dessa época destacam-se os programas: O mundo é da mulher, Crepúsculo sertanejo, Dê uma música de presente, Festa do lar e Hora do viajante.
Ainda na década de 60 é repassada para o Sistema Globo mudando o nome fantasia para Rádio Globo.
Na década de 70 recebe investimentos consideráveis. Vem para a emissora um ex-diretor da Rádio Olinda, Gilson Correia, nome de grande experiência na rádio da época, que traz consigo outros radialistas. Esse período é marcado pelo crescimento. A equipe esportiva é reestruturada recebendo nomes como Ivan Lima e José Santana, do radiojornalismo esportivo. São trazidos também Samir Abou Hana, Geraldo Freire e Jota Ferreira que ajudam no fortalecimento da emissora. Ainda assim, no final da década a emissora começa a enfraquecer. Os custos são altos. Locutores de renome deixam a rádio e é extinta a equipe esportiva.
A década de 80, marcada pela decadência, apresenta uma programação essencialmente musical e muitos problemas administrativos. Uma decisão da administração central do Sistema Globo no Rio, resulta numa reformulação estrutural. São criados novos espaços para o jornalismo e muita prestação de serviços. Os problemas da comunidade como: iluminação, abastecimento, transporte, saneamento, etc... recebem atenção especial da emissora. Essa proposta consolida-se principalmente a partir de 1994, quando a rádio passa a funcionar como Central Brasileiras de Notícias - CBN - dedicada especificamente ao jornalismo com uma produção local alternada com transmissão via satélite.

RÁDIO OLINDA

A Rádio Olinda nasce principalmente para satisfazer os interesses do então Governador de Pernambuco, Agamenon Magalhães. Foi inaugurada em 8 de dezembro de 1953 pelo empresário Arlindo Cardoso de Moura, partidário do Governador.
A princípio, seus estúdios localizavam-se na Rua do Bonfim, no sítio histórico de Olinda,  e a emissora propõe-se a concorrer com as três emissoras existentes: Rádio Jornal do Commercio, Rádio Clube de Pernambuco e Rádio Tamandaré. A programação é diversificada: jornalismo, esportes e utilidade pública. Com o passar dos anos, começam as mudanças na programação, na estrutura, na proposta de trabalho e no quadro de profissionais.
Com o falecimento de Armindo Moura, a emissora é vendida para a Arquidiocese de Olinda e Recife. No início da década de 60 é reinaugurada por D. Carlos Coelho, arcebispo de Olinda e Recife. Posteriormente, a Arquidiocese passa a direção para as  Edições Paulinas que mantém contrato com a L&C que se responsabiliza pela parte programática, priorizando a parte jornalística e esportiva e contratando bons  profissionais. É nesse período que a emissora alcança e mantém um espaço razoável entre a audiência. Findo o contrato, a programação passa a ser essencialmente musical e os índices de audiência começam a cair porque as FM’s já estão no mercado.
Nos anos noventa, a emissora localiza-se no bairro popular de Caixa d’água e faz uma programação popularesca para uma audiência essencialmente feminina, acima de 30 anos, das classes sociais C, D e E.

RÁDIO UNIVERSITÁRIA

A Rádio Universitária AM, ZYI 775, da Universidade Federal de Pernambuco, foi fundada no ano de 1963 integrada ao Departamento de Educação da UFPE, na época chamada Universidade do Recife.
A emissora entra em funcionamento “com um transmissor telefunken de 1kw instalado no Campus do Engenho do Meio, enquanto seus estúdios e setores de produção funcionavam na Rua do Hospício, na parte posterior do prédio da Reitoria.”[2]
Cumprindo seus objetivos, a emissora coloca no ar a Campanha de Alfabetização idealizada por Paulo Freire que marcaria o apogeu deste projeto de educação.
Após o Golpe Militar de 1964, todos os projetos de educação da emissora foram extintos e a programação passa a ser essencialmente musical enfatizando a MPB, música clássica e música folclórica. Tudo que restou da proposta educativa foram os cursos de idiomas que eram doados à emissora por instituições e entidades internacionais. durante muito tempo, os consulados da Alemanha, Inglaterra, Suíça e Holanda colaboram enviando programas de ópera, música clássica e documentários narrados em português. Cinco anos após a concessão, passa a funcionar juntamente com a TV Universitária na Avenida Norte onde permanece até sair do ar por problemas técnicos e burocráticos. Posteriormente instala-se em novo prédio na Cidade Universitária.

AS FM’s INVADEM O MERCADO

Na segunda metade da década de 70, a entrada das FM’s no mercado desequilibra ainda mais as pequenas emissoras AM que não suportando a pressão da TV optaram por uma programação musical como alternativa de sobrevivência.
Em 1976, instala-se a Rádio Transamérica cujo concessionário é o Banco Real que detém uma rede de emissoras centralizadas em São Paulo onde se determinam as regras de funcionamento das demais afiliados. No início, dirige sua programação para um segmento de público mais exigente e assim permanece até a década de 80 quando passa a sofrer concorrência das novas emissoras. A queda de audiência e a pressão dos anunciantes provocam uma alteração no seu estilo. Abre-se espaço para uma produção local com participação dos ouvintes e o reconhecimento dos seus locutores. Passa a ser uma rádio de estilo popular / participativo com um espectro amplo de audiência. No final dos anos 80 começa a preparação para o uso de satélite e um sistema de locução novamente centralizado. A partir de 1991, praticamente desaparece a produção local que fica restrita a promoções dentro da cidade e gravações de comerciais reduzindo assim o quadro de profissionais.
Os Diários Associados são os concessionários da Rádio Caetés - A FM do Povo - que entra no ar em agosto de 1980. Com uma equipe técnica de dezenove funcionários e uma torre de transmissão que pertenceu à extinta TV Rádio Clube. Algum tempo depois, reorganiza-se administrativamente e reduz em 50% o quadro de pessoal. Faz um programação popular para um público heterogêneo.
Em setembro de 1980, as Empresas Bloch inauguram a Rádio Manchete. Bem diversificada no estilo musical, entra com uma proposta de atrair um público jovem com uma programação local. Além da concorrência enfrenta as dificuldades próprias da Rede Manchete.
A Universidade de Pernambuco inaugura a Rádio Universitária FM, em 1981. Sem preocupações com o IBOPE, tem uma programação mais elaborada e maior flexibilidade para experimentar propostas ousadas. Entretanto, atrelada a uma estrutura rígida, não tem grandes possibilidades de inovar.
Em dezembro de 1981, inicia-se a Rádio Recife - A FM da Gente -, posteriormente vendida ao Grupo Édson Queiroz do Sistema Verdes Mares de Comunicação, em 1984. A princípio recebe orientação de uma emissora de São Paulo e só define sua programação a partir de 1983. Entre 1986 - 1987 cresce com o modismo da lambada que a impulsiona no IBOPE. Adota um estilo popular dirigido às classes C, D e E.
A Rádio Cidade, inaugurada em julho de 1983, surge com o objetivo de atender ao público de 15 a 24 anos com uma programação musical numa linha pop. Abre a participação do público pelo telefone, distribui prêmios, promove concursos e sorteios. No início dos anos 90, tenta trabalhar com satélite e perde audiência. Retoma então uma produção local mais identificada com o ouvinte. Integra o Sistema Brasil Nordeste de Comunicação.
Em outubro de 1983, entra no ar a Rádio Evangélica, investimento de um grupo de evangélicos, liderado pelo Pastor Hélio Vidal de Freitas da 1ª Igreja Batista do Recife. A programação inicial funciona como uma extensão da Igreja, com um locutor pregando aos fiéis. Depois são introduzidos outros segmentos com música religiosa, música clássica e começa o arrendamento do horário para outras denominações cristãs.
A Rádio 91.9 FM, inaugurada em 1987, com nome Duarte Coelho FM,  tem como concessionária a família Duarte Coelho, proprietária da Usina Matari. A proposta inicial era privilegiar o rock dirigindo-se ao público jovem mas a queda no faturamento redireciona a programação para as classes A e B. A partir de 1988, integra o sistema Antena 1 e passa a ser conhecida por este nome. Em 1993, passa a operar por satélite, reorganizando-se administrativamente e demitindo funcionários. Em julho de 1995, é adquirida pela Igreja Universal do Reino de Deus reestruturando a programação para esse segmento de público com a nova denominação 91.9 FM.
Em dezembro de 1988, entra no ar a 103 Fm cujo concessionário é o político Geraldo Melo - na ocasião, prefeito de Jaboatão dos Guararapes, onde se localiza a emissora. A emissora já inicia suas atividades com problemas financeiros. Tenta recuperar-se com a contratação de novos profissionais, renovando sua programação e fugindo do estilo brega que estava consolidando sua imagem. Promove festas locais em datas comemorativas com sorteios e distribuição de prêmios e transmissão de eventos esportivos.
A Rádio JC FM, do Grupo Bompreço, é inaugurada em janeiro de 1989. Entra no mercado com uma proposta de rádio jovem dirigida ao público na faixa de vinte anos. A idéia não resulta e a emissora contrata novos funcionários redirecionando a programação para as classes B, C e D com muita música sertaneja, pagode e forró.
A Rádio Maranata, emissora evangélica que tem como concessionário o deputado federal Salatiel Carvalho começa a funcionar em setembro de 1990. A emissora é vinculada à Assembléia de Deus e tem a programação totalmente voltada aos evangélicos com músicas, mensagens reflexões e notícias de interesse das igrejas.
Em 1992, o Sistema Brasil Nordeste de Comunicação inaugura, em Recife, a Rádio Jornal do Brasil que tem sua matriz no Rio de Janeiro. A proposta da emissora é atender ao público das classes A e B acima de 35 anos. Como emissora integrante de rede, obedece ao padrão nacional de locução e a mesma programação. Em 1995, o Sistema Brasil Nordeste desliga-se da Rádio JB e passa a funcionar como Rádio Jovem Pan,  com uma programação alternada entre local e via satélite, dirigida para um segmento de público ampliado também para a classe C na faixa etária entre 15 e 30 anos.
A FM Rádio Rock inicia suas transmissões em fevereiro de 1992 para um público das classes sociais A e B, basicamente masculino, na faixa etária entre os 15 e 25 anos. O mercado publicitário não compreendeu a proposta e faltou o apoio comercial. Sai então a Rádio Rock e entra, em maio de 1993, a 107 FM: de bem com a vida adotando um estilo musical popular, brega e romântico dirigido a um público entre 20 e 35 anos, predominantemente feminino, das classes sociais C, D e E. Amplia a participação do público através de cartas e telefonemas e dissemina a idéia do otimismo como solução para os problemas. A nova proposta não se consolida e novamente a programação é reestruturada para conquistar audiência. Em agosto de 1995, passa a transmitir como Antena 1. Integra o Sistema Brasil Nordeste de Comunicação.
Em outubro de 1993, é inaugurada a Rádio Tribuna FM, integrante do sistema TV Tribuna Rádio e Televisão, do Grupo João Santos, com sede em Recife. A proposta da emissora é atingir o público das classes sociais A e B na faixa etária acima de 25 anos, com uma programação musical bem diversificada.
Finalmente, em julho de 1994, a 102 FM é inaugurada. Integra uma rede estadual de emissoras FM que detém ainda a concessão da FM Metropolitana de Pesqueira, FM Metropolitana de Caruaru e FM Metropolitana Zona Sul da Cidade do Cabo. Sua programação é popular predominando o forró.
Este trabalho representa um painel da história do rádio pernambucano até mediados dos anos 90. Os segmentos específicos, referentes aos gêneros de programação, constituem outros subprojetos integrados ao Projeto Construção de História da Mídia em Pernambuco, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa História e Imagem da Comunicação, do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Pernambuco, com a participação de alunos de graduação.

A HISTÓRIA DO RÁDIO NO BRASIL

1 - O avanço da tecnologia e o rádio
Em 1831 Michael Faraday (1791-1867), um físico e químico inglês, considerado um
dos cientistas mais influentes de todos os tempos descobre o princípio da indução
eletromagnética. Nos anos de 1895 e 1896, Aleksander Stepanovitch Popov, Henry
Bradwardine Jackson e Oliver Joseph Lodge, conseguiram transmitir sinais de rádio a
pequenas distâncias. O que deu condições para que, em 1895 o físico e inventor italiano
Guglielmo Marconi (1874 – 1937) inventasse o primeiro sistema prático de telegrafia sem
fios em 1896 e construísse os primeiros equipamentos de transmissão e recepção,
possibilitando enviar sinais a algumas centenas de metros, isso tudo com base nas
pesquisas anteriores de Michael Faraday, James Maxwell, Heinrich Hertz e outros.
Marconi aproveitou o coesor de Edouard Branly, a antena de Aleksandr Popov e a
sintonia desenvolvida por Oliver Lodge, a qual permitia selecionar o recebimento de
apenas uma freqüência específica entre as inúmeras que podem ser captadas por uma
antena. A pequena distância de cem metros ampliou-se no mesmo ano para incríveis dois
quilômetros e, em maio de 1897, para treze quilômetros. No início do século XX, o
Atlântico Norte já era cruzado por sinais de radiotelegrafia.
Em 1904, aparece John Ambrose Flemming (1849/1945), um engenheiro eletrônico
e físico britânico. Flemming foi consultor científico de Marconi de 1899 até 1905, onde
desenvolveu técnicas de radiotelegrafia e inventou a válvula de dois elementos (diodo).
Logo em seguida o padre católico e inventor brasileiro Roberto Landell de Moura
(1861/1928), obtém nos Estados Unidos, as patentes do transmissor de ondas, telefone
sem fio e telégrafo sem fio. Landell de Moura é considerado um dos vários "pais" do rádio,
no caso o pai brasileiro do Rádio. Foi pioneiro na transmissão da voz humana sem fio
(radioemissão e telefonia por radio) antes mesmo que outros inventores, como o
canadense Reginald Fessenden (dezembro de 1900). O padre gaúcho Landell de Moura
realizou, em 1893, do alto da Avenida Paulista ao morro de Sant'Anna, em São Paulo,
numa distância de oito quilômetros, a primeira experiência de radiotelefonia de que se tem
registro, embora não haja documentos que comprovem o fato. Já em 1899 e 1900, jornais
citam a experiência, dando fé do pioneirismo do brasileiro na transmissão de sinais
sonoros. Veja, por exemplo, que Marconi se notabilizou por transmitir sinais de telegrafia
por rádio; mas só transmitiu a voz humana em 1914. Pelo seu pioneirismo, o Padre
Landell de Moura é o patrono dos radioamadores do Brasil. A Fundação Educacional
Padre Landell de Moura foi assim batizada em sua homenagem, assim como o CPqD
(Centro de Pesquisas e Desenvolvimento) criado pela Telebrás em 1976, foi batizado de
"Roberto Landell de Moura".
Em 1906, Ernst Alexanderson (1876/1975), construiu o “Alexanderson Alternator”,
ou o “alternador de alta freqüência”, dispositivos eletromagnético que transforma corrente
contínua em corrente alternada, o que permite gerar ondas de radiofreqüência, que dão
origens às rádios e assim possibilitou a modulação da voz, tornando o rádio um
instrumento prático. O único transmissor em funcionamento que “sobreviveu” está até os
dias de hoje está na estação de rádio na cidade de Varberg, na Suécia. Este é um
primeiro exemplo de tecnologia de rádio “pré-eletrônica” e foi adicionado a lista de
patrimônio mundial pela Unesco em 2004.
No inicio as rádios usavam as frequências de transmissão AM, que é o processo de
transmissão através do rádio usando Modulação em Amplitude. É transmitido em várias
bandas de freqüência. Este sistema foi por oitenta anos o principal método de
transmissão via rádio. Caracterizado pelo longo alcance dos sinais, a freqüência AM está
sujeita a interferências de outras fontes eletromagnéticas. As primeiras transmissões
utilizando a freqüência iniciaram-se em 1906 por Reginald Fessenden. Até a I Guerra
Mundial era utilizada para transmissão de músicas e recados diversos. A situação
modificou-se com o surgimento das rádios comerciais, que deram início a era de ouro do
rádio, que foi da década de 20 até os anos 50.
As primeiras estações de rádio eram simplesmente radiotelegrafia e não tinham
capacidade para “carregar” áudio. O primeiro pedido de autoria para uma transmissão de
áudio (voz) foi feita no Natal de 1906 pelo engenheiro canadense Reginald Fessenden.
Onde, entretanto, esta transmissão de radio foi realizada é motivo de controvérsia entre
os historiadores. Com a invenção da válvula termiônica, foi possível melhorar a
transmissão e reprodução do sinal de rádio. Começaram as emissões radiofônicas com
mais qualidade. Em 1908, Lee De Forest realizou, do alto da torre Eiffel, uma emissão
ouvida nos postos militares da região até Marselha. Um ano depois, a voz do tenor Enrico
Caruso era transmitida do Metropolitan Opera House. Charles Herrold, um pioneiro da
radiodifusão criou em 1909, em São José na Califórnia a primeira estação de rádio do
mundo e que “carregou” áudio no ano seguinte. A estação de rádio de Herrold tornou-se a
famosa Rádio KCBS. Em 1916, Lee De Forest instalou uma estação emissora
experimental em Nova York. No final da primeira guerra mundial, a radiofonia já estava
em pleno funcionamento no mundo inteiro. Em 1919 foi inaugurada uma emissora de
rádio regular em Rotterdam na Holanda. O rádio seguiu seu caminho como meio de
comunicação alcançando o planeta. Os radiodifusores improvisavam seus próprios
receptores de rádio. No final da primeira guerra mundial, a radiofonia já estava em pleno
funcionamento no mundo inteiro.
Em 1920, inaugurou-se a primeira radiodifusora comercial, em Pittsburgh, Estados
Unidos, com o prefixo KDKA pelo Dr. Frank Conrad. A primeira transmissão comercial da
KDKA foi realizada de Saxonburg, no município de Butler County, Pensilvânia em
novembro de 1920. Posteriormente o equipamento foi transferido para um edifício de
escritórios em Pittsburgh, Pensilvânia e adquirido pela Westinghouse. A KDKA de
Pittsburgh, sobre a gerência da Westinghouse, iniciou transmissões inicialmente
licenciadas como "comercial". A designação comercial teve origem no tipo de licença, a
publicidade no rádio iria demorar um pouco mais. A primeira transmissão de áudio
mostrou os resultados das eleições presidenciais de 1920.
O transporte marítimo, que já vinha utilizando a radiotelegrafia desde o início do
século XX, passou a utilizar também a radiotelefonia, além disto, começaram a surgir
estações amadoras que transmitiam programas musicais. O interesse do público pelos
receptores aumentou.
Na mesma época, a América Latina também iniciava seus primeiros passos. A
Rádio Argentina inicia transmissões regulares a partir do Teatro Coliseo em Buenos Aires
em de 1920. Entretanto, a estação apenas foi licenciada em novembro de 1923. A demora
foi devida a falta de licenças oficiais por parte do governo Argentino, o qual até então
ainda não tinha procedimentos técnicos para outorgas. Esta estação de radio continuou
transmitindo regularmente entretenimento e cultura por décadas.
A partir da década de 1920, vários países montaram transmissores de rádio, como
Alemanha, Argentina, Áustria, Bélgica, União Soviética, Canadá, Chile, Dinamarca,
Espanha, Estados Unidos, Finlândia, Reino Unido, França, Itália, Japão, Noruega, Suíça,
Checoslováquia e, naturalmente, Brasil.
A partir das primeiras emissões de rádio, começaram a ser notados os fenômenos
de radiopropagação. Ainda não se sabia da influência da ionosfera e da troposfera na
propagação das ondas de rádio, e nem se conheciam os efeitos de reflexão ionosférica,
espalhamento e canalização. Os fenômenos de radiopropagação empolgaram técnicos e
engenheiros, pois as emissoras de então, começaram a receber correspondências de que
estavam sendo capatadas em cidades e países distantes. O que de certa forma, acelerou
as pesquisas e ajudou a disseminar mais ainda a radiodifusão.
2 - Os primórdios do rádio no Brasil
A inauguração oficial do rádio no Brasil ocorreu em 7 de setembro de 1922. No ano
em que se comemorou o I Centenário da Independência do Brasil (1922), ocorreu no Rio
de Janeiro, uma grande feira internacional, a Exposição do Centenário da Independência,
na Esplanada do Castelo, que recebeu visitas de empresários americanos trazendo a
tecnologia de radiodifusão para demonstrar na feira, que nesta época era o assunto
principal nos Estados Unidos. Para testar o novo meio de comunicação, os americanos da
Westinghouse Electric instalaram uma estação de 500 W e uma antena no pico do morro
do Corcovado (onde atualmente é o Cristo Redentor). O público ouviu o pronunciamento
do Presidente da República, Epitácio Pessoa e a ópera O Guarani, de Carlos Gomes,
transmitida diretamente do Teatro Municipal, isso tudo além de conferências e diversas
atrações. Muitas pessoas ficaram impressionadas, pensando que se tratava de algo
sobrenatural. A primeira transmissão radiofônica do discurso do presidente Epitácio
Pessoa, foi captada em Niterói, Petrópolis, na serra fluminense e em São Paulo, onde
foram instalados aparelhos receptores. A reação visionária de Roquette-Pinto a essa
tecnologia foi: "Eis uma máquina importante para educar nosso povo".
No mesmo ano, nos Estados Unidos, surgiu a primeira emissora comercial, a
WEAF, de Nova Iorque, criada pela companhia telefônica American Telephone and
Telegraph (atual AT&T).
Depois da primeira transmissão no Brasil em 1922, Roquette Pinto tentou sem
sucesso convencer o Governo Federal a comprar os equipamentos apresentados na Feira
Internacional. Roquette Pinto (1884/1954) foi um médico legista, professor, antropólogo,
etnólogo e ensaísta brasileiro. Para o bem da comunicação do Brasil, Roquette-Pinto não
desistiu, e conseguiu convencer a Academia Brasileira de Ciências a comprar os
equipamentos. Foi então criada a primeira rádio do país, a Rádio Sociedade do Rio de
Janeiro - atual Rádio MEC, fundada em 1922, e dirigida por Roquette-Pinto, com um
possante transmissor Marconi com dois mil wats de potência - o melhor da América do
Sul - e a criação de uma escola de radiotelegrafia. Menos de um ano mais tarde, em 20
de Abril de 1923, foi inaugurada a primeira rádio brasileira, a "Rádio Sociedade do Rio de
Janeiro", fundada por Roquete Pinto e Henry Morize. Henri Charles Morize ou Henrique
Morize (1860/1930) foi um engenheiro industrial, geógrafo e engenheiro civil francês,
naturalizado brasileiro; Morize foi também o primeiro presidente da Academia Brasileira
de Ciências. Voltada para a elite do país, a programação da rádio incluía ópera, recitais
de poesia, concertos e palestras culturais e tinha uma finalidade cultural e educativa.
Como os anúncios pagos eram proibidos, a rádio era mantida por doações de ouvintes.
Roquete Pinto definiu bem como foi à primeira transmissão de rádio no Brasil:
“Tudo roufenho, distorcido, arrombando os ouvidos, era uma curiosidade sem maiores
conseqüências”. Essas frases fazem parte do discurso dele sobre a primeira transmissão
radiofônica no Brasil, na Praia Vermelha, Rio de Janeiro, 1922.
Utilizando o espaço ocioso dos transmissores adquiridos pela União junto à
Western, o Brasil entra, em definitivo, na era das comunicações eletrônicas, com o início
das operações da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 1º de maio de 1923. Como
ocorre, em geral, com as novas tecnologias, o rádio atua, de início, no âmbito da
burguesia, mesmo que o idealismo de seus pioneiros – com destaque para Edgard
Roquette-Pinto e Henrique Morize que cunham para a emissora o slogan “trabalhar pela
cultura dos que vivem em nossa terra e pelo progresso do Brasil”. Pretensão semelhante
possui, então, a Sociedade Rádio Educadora Paulista, de São Paulo, que começa a
transmitir em 30 de novembro de 1923. Símbolo desta época é também o Rádio Clube de
Pernambuco, fundado em Recife, no dia 6 de abril de 1919, que, como definem os seus
estatutos, pretendia a montagem de uma estação experimental para o estudo das
transmissões telegráficas e telefônicas sem fio. Conforme Renato Phaelante
1, no início
dos anos 20 já ocorrem emissões em caráter experimental, o que garantiriam a
precedência da iniciativa nordestina em relação às do centro do país.
Os dados existentes indicam semelhanças em todos estes clubes e sociedades de
radiófilos,sem-filistas ou amadores da radiotelefonia, expressões que definem, na época,
os integrantes destas associações. São eles entusiastas com conhecimento da tecnologia
radiofônica e outros ligados ao ensino e, mesmo, ao comércio, muitos mantendo boas
relações com a classe política. Cada sócio tinha de pagar, além da jóia inicial, uma
mensalidade, o que, constatada a inadimplência da maioria, seria fatal para a
sobrevivência destas agremiações, ou seja, das rádios sociedades ou clubes.
As transmissões de rádio ocorriam, em geral, à noite e em dias esparsos, sem uma
continuidade entre um conteúdo e outro. Assim, à conferência científica seguia-se minutos
de silêncio até que alguém, como se estivesse em um sarau em uma típica casa
burguesa, apresentasse talvez um número de piano ou de violão, podendo ocorrer
mesmo a afinação do instrumento à frente do microfone. Predominando o idealismo
associativo de elite, a atividade radiofônica se aproxima em grande medida de uma
espécie de artesanato.
Os diletantes das associações radiodifusoras enquadram-se bem nesta condição
de “artesanato”. Há que recordar a relativa confusão a respeito dos vários tipos de
transmissões às quais estes entusiastas dedicam-se a escutar: irradiações provenientes
1
Por predominar aqui o caráter associativo, adotou-se, como era feito então, a forma masculina o Rádio Clube de Pernambuco,
reforçando, assim, a idéia de entidade de amadores da radiodifusão.
de embarcações (radiocomunicação), de particulares (radioamadorismo), de estações
telegráficas (radiotelegrafia) e de sociedades ou clubes de radiófilos (as primeiras
emissoras de rádio). Da visão inicial que não diferencia muito umas das outras, vai-se
evoluir para a idéia de uma fonte sonora comunicando-se com diversos receptores
simultaneamente. O uso da publicidade e a gradativa introdução das estações comerciais,
por fim, vão deixar para trás o associativismo de elite.
O despertar para a possibilidade de obtenção de lucro dá-se no Rádio Clube do
Brasil, fundado em 1º de junho de 1924 por Elba Dias. De acordo com Vampré (1979, p.
33), a entidade foi a primeira do país a obter autorização do governo para transmitir
anúncios, além de abrir espaços crescentes para artistas que começam a se destacar na
indústria fonográfica. Na seqüência, surgem os programistas, radialistas pioneiros que
arrendam espaço nas emissoras e se responsabilizam pela apresentação, produção e
comercialização do conteúdo. Este processo coincide com o advento, nas décadas de
1920 e 1930, de uma nova realidade econômica no Brasil, identificada por autores como
Prado Júnior (2006, p. 288-9).
Mas os problemas começaram; poluição do espectro e interferência. Este fato
obrigou as autoridades dos paises a iniciarem o disciplinamento do uso das transmissões.
De forma pioneira, as freqüências das emissoras de rádio foram regulamentadas pelo
Departamento de Comércio dos Estados Unidos que passou a determinar as horas em
que podiam operar. Houve contestação, o caso foi aos tribunais em 1924 e o
Departamento de Comércio perdeu a questão. O espectro se transformou num caos que
durou três anos. Em 1927 o congresso americano seria obrigado a intervir criando uma
comissão federal de radiocomunicações, que regulamentou o sistema.
Na mesma época, na Europa, as estações que se interferiam eram de países e
línguas diferentes, a regulamentação tinha que ser de caráter internacional. Isso foi feito a
partir de 1925 pela União Radiotelegráfica Internacional (URI). Os governos uniram-se,
definiram as freqüências e o emprego mais eficaz da radiodifusão. A primeira
regulamentação entrou em vigor em novembro de 1926.
Em 1926, foi inaugurada a Rádio Mairynk Veiga, seguida da Rádio Educadora,
além de outras da Bahia, Pará e Pernambuco. A tecnologia era ainda muito incipiente,
pois os ouvintes utilizavam-se dos rádios de galena montados em casa, quase sempre
por eles mesmos, usando normalmente caixas de charutos. Isso se tornava possível pelo
fato dos aparelhos serem compostos por apenas cinco peças, segundo ensinava José
Ramos Tinhorão em seu livro editado em 1990.
Como visto, no Brasil, as primeiras transmissões AM surgiram com a emissora de
Roquette-Pinto, que em 1923 fundou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que em 1936
iria transformar-se em Rádio Ministério da Educação, que propagaria o ensino à distância.
As freqüências AM foram fundamentais na vida do brasileiro em meados do século XX. As
rádios de longo alcance, como a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a Super Rádio Tupi e
a Rádio Record, que atingiam quase 100% do território nacional ajudaram a propagar os
times cariocas e paulistas de futebol por todo o Brasil.
O crescimento do rádio na sua primeira década de existência no Brasil se deu de
forma lenta, pois como dissemos a legislação brasileira não permitia a veiculação de
textos comerciais o que dificultava a sobrevivência financeira das Rádio-Sociedades, ou
seja, sobreviviam de doações de amigos e sócios. Bem verdade que tal fato não impedia
que as emissoras mesmo não produzindo intervalos comerciais, tivessem seus programas
patrocinados por anunciantes específicos cujos produtos eram recomendados ao público
ao longo do programa. Nos primeiros anos o alcance do rádio era pequeno em termos de
público, pois o preço dos aparelhos receptores era alto, tornando-os inacessíveis a
grande parte da população.
Nas modalidades rádio-sociedade e rádio-clube
2, que, depois da criação da
primeira estação de rádio, surgiram em todo o Brasil, o princípio era o mesmo: um grupo
de pessoas pagava uma mensalidade para a manutenção do equipamento e o salário dos
funcionários, e alguns ainda cediam discos para serem ouvidos por todos. Foi essa
característica, adotada por Roquette-Pinto, que tornou possível, num primeiro momento,
uma incipiente radiodifusão, que só se tornou um meio de comunicação de massa na
década de 1930, com a introdução do rádio comercial e a redução do preço dos
receptores. A percepção da potencialidade do rádio não era, como se extrai das palavras
de Albert Einstein, privilégio apenas das pessoas que lidavam com o novo meio: em 1925,
em visita ao Brasil, ele recomendava “cuidado na utilização do rádio, pois, se mal usado,
as conseqüências poderão ser lamentáveis”.
A partir de 1927, começa a era eletrônica do rádio. O som dos discos não precisa
mais ser captado pelo microfone, pois o toca-disco tinha sido conectado a uma mesa de
controle de áudio e podia ter seu volume controlado eletronicamente. Com estúdios mais
ágeis, as produções dos programas radiofônicos ficam mais aprimoradas.
A Rádio Gaúcha é uma estação de rádio brasileira com sede em Porto Alegre, RS. Pertence ao
Grupo RBS e opera nas frequências 600 kHz AM e 93,7 MHz FM. É a cabeça-de-rede da Rede
Gaúcha SAT, que detém mais de 150 emissoras. A emissora foi a rádio brasileira que enviou o
maior número de profissionais para a Copa do Mundo FIFA 2010, junto com a RBS. A Rádio
Gaúcha foi fundada em 8 de fevereiro de 1927. A rádio faz suas transmissões com som 100%
digital e ocupa a faixa de 600 kHz AM, sendo esse canal exclusivo da emissora nas regiões
Sul/Sudeste e parte sul do Mercosul. Este 600 AM já foi usado pela Rádio Farroupilha, outra rádio
do Grupo RBS, que hoje ocupa a frequência 680 kHz AM, faixa antes utilizada pela Rádio Gaúcha.
Em 28 de maio de 2008, a Rádio Gaúcha passou a transmitir também em FM, na frequência
93,7 MHz. A emissora já ocupou as frequências FM em 94,1 MHz (hoje 94,3 da Rádio Atlântida) nos
anos 60-70 e 102,3 MHz (atual Rádio Itapema FM) nos anos 70-80. Na época era chamada Gaúcha
2
REVISTA USP, São Paulo, n.56, p. 16-21, dezembro/fevereiro 2002-2003- Carlos Henrique Antunes Taparelli
ZH FM e possuía uma cadeia de rádios, hoje, ocupadas pela Rede Atlântida e pela Rádio Itapema
FM
Com a conformação do rádio espetáculo no início dos anos 1930 a partir do
trabalho de César Ladeira, primeiro na Record, de São Paulo, e depois na Mayrink Veiga,
no Rio de Janeiro, criam-se as possibilidades concretas para que o veículo atenda às
necessidades de divulgação de produtos e serviços de terceiros. A ele, Ortriwano (1985,
p. 17) atribui a criação do elenco exclusivo e remunerado, base da profissionalização do
meio que irá permitir o surgimento dos programas de auditório, humorísticos e novelas,
principais conteúdos para o mercado anunciante da época. Os indícios existentes levam a
crer, (Tota 1990, p.71), que a compra da Record, em 1931, por um grupo integrado por
Paulo Machado de Carvalho, permite à estação “estruturar-se como uma moderna
empresa de comunicação, acompanhando o processo geral de transformações que
caracterizou o Brasil dos primeiros anos da década de 1930”.
3 – Nasce o rádio comercial brasileiro
No início da década de 1930, a situação havia mudado e o rádio se tornara um
veículo mais popular. Em São Paulo (que oferecia os maiores salários do país) um
aparelho de rádio custava em torno de 80$000 e o salário médio de uma família de
trabalhadores era de 500$000 por mês. Ainda na década de 1930, surge o rádio
comercial, após a emissão de um decreto permitindo a inserção publicitária - Decreto nº
21.111, de 1º de março de 1932, que autorizava 10% da programação da rádio a ter
comerciais (atualmente é 25%). Como resultado, a produção erudita passou a ser popular
e os interesses dos proprietários passaram de educativos para mercantis. Por outro lado,
a competição gerou desenvolvimento técnico, popularidade e status às emissoras. A
década de 30 marcou o apogeu do rádio como veículo de comunicação de massa,
refletindo as mudanças pelas quais o país passava. O crescimento da economia nacional
atraía investimentos estrangeiros, que encontravam no Brasil um mercado promissor. A
indústria elétrica, aliada à indústria fonográfica, proporcionaram um grande impulso à
expansão radiofônica.
A autorização do governo Vargas para a veiculação de publicidade no rádio, em
março de 1932, deu ao novo meio um impulso comercial e popular. No mesmo ano, o
governo começou a distribuir concessões de canais a indivíduos e empresas privadas.
Ainda nos anos 1930, aparece a propaganda política. Também surgem os programas de
auditório, com a participação popular. Além disso, a Rádio Jornal do Brasil estabelece em
sua programação o cunho informativo.
Ainda em 1932, no mês de maio, o rádio dava amostras de sua capacidade de
mobilização política. A cidade de São Paulo exigia a deposição do então Presidente
Getúlio Vargas, as rádios paulistas, em especial a rádio Record se transformavam em
poderosas armas. Em julho, teve início o movimento que ficou conhecido como a
Revolução Constitucionalista, que tinha como principal exigência a convocação de
eleições para a formação de uma Assembléia Constituinte: o país necessitava de uma
nova Constituição. A cidade logo foi cercada pelas forças federais, isolada, utilizou as
emissoras de rádio para divulgar os acontecimentos a outras partes do país. Em outubro
São Paulo entregava as armas. O rádio saiu do conflito revigorado por sua destacada
atuação. Alguns profissionais do setor, como o locutor César Ladeira, se tornaram
conhecidos em âmbito nacional.
Ao longo da década de 1930 o rádio foi se mostrando um veículo de publicidade
economicamente rentável. A Legislação promulgada em 1932 oferecia soluções para o
problema da sobrevivência financeira das emissoras, ao mesmo tempo que garantia ao
Estado uma hora diária da programação em todo o território nacional para a transmissão
do programa oficial do governo. O rádio trouxe inovações técnicas e modificou hábitos,
transformando-se na maior atração cultural do país.
Desde 1932 a Rádio Philips investia no Programa Casé, que representou uma
revolução na forma de apresentar programas de rádio. Foi Adhemar Casé, juntamente
com Nássara, quem criou os primeiros jingles publicitários. Seu programa foi pioneiro em
abrir espaços para patrocinadores e em veicular quadros humorísticos. Sociedade Rádio
Philips do Brasil foi fundada em 12 de março de 1930 no Rio de Janeiro, então capital
federal, pela Philips (que se instalara no Brasil nos anos 20). A rádio Philips possuía uma
boa qualidade de som em comparação às outras emissoras da época, não só pela
potência do sinal irradiado, mas também pela qualidade dos aparelhos da marca vendidos
à elite carioca por um pernambucano que viria a se tornar em um dos mais famosos
produtores de programas de rádio da época: Ademar Casé (avô de Regina Casé). Os
locutores da emissora a propagavam como sendo do "signo das estrelas", já que sua
logomarca era composta do desenho de quatro estrelas. Aproveitando os contatos e a
sua fama como grande profissional dentro da Philips, Ademar sugeriu a Vitoriano Augusto
Borges, diretor da Rádio Philips, o aluguel de um horário explicou que essa nova
experiência seria ainda melhor e mais dinâmico do que o “Esplêndido Programa,”
programa de maior sucesso na época transmitida pela Rádio Mayrink Veiga. O Programa
Casé estreou às oito horas da noite de 14 de fevereiro de 1932, e se tornou um sucesso.
A Rádio Philips foi desativada em
1936 pela organização holandesa, forçada por
uma legislação governamental, que criava embaraços para uma emissora com suas
características, já que tinha como principal objetivo, divulgar os produtos fabricados e
comercializados pela Philips do Brasil, conforme descreve Reinaldo C. Tavares em seu
livro "Histórias que o Rádio Não Contou". Rafael Casé (outro neto de Ademar), escritor de
"Programa Casé - O Rádio Começou Aqui", no entanto, descreve outra versão: A Philips
era a única emissora carioca a atingir São Paulo e, por não apoiar a Revolução
Constitucionalista de 1932, passou a enfrentar boicote paulista a seus aparelhos. Como a
emissora nascera para ajudar a promover os produtos Philips e não para prejudicá-los, a
direção da multinacional decidiu vendê-la. Foi encampada pelo grupo do jornal "A Noite",
"Noite Ilustrada" e "Revista Carioca" e transformada na famosa Rádio Nacional do Rio de
Janeiro, sendo seus estúdios instalados inicialmente na Praça Mauá número 7, edifício A
Noite.
As empresas multinacionais foram as primeiras a utilizar o rádio na publicidade. Os
programas de auditório e as rádio-novelas tinham o patrocínio de marcas como Philips,
Gessy e Bayer. Na política, o rádio também exerceu enorme influência: a propaganda
eleitoral, o pronunciamento do presidente fazia parte da programação e alcançavam
milhares de ouvintes/eleitores. Em 1933, o americano Edwin Armstrong demonstra o
sistema FM para os executivos da Radio Corporation of America (RCA). Edwin Howard
Armstrong (
1890/1954) foi um engenheiro elétrico estadunidense, inventor do "rádio FM".
Uma rádio FM transmite informações utilizando modulação em frequência.
Quadro 3.1 - Serviço de rádio e banda de freqüência atribuída
Onda Média (AM) - utilizada nas Américas, esta banda possui
médio alcance 525 kHz a 1705 kHz
Onda Tropical (OT) (120 metros) - utilizada entre os Trópicos, esta
banda possui longo alcance, razoável qualidade de sinal 2300 kHz a 2495 kHz
Onda Tropical (OT) faixa alta 3200 kHz a 5060 kHz
Onda Curta (OC) - apresentam longo alcance, porém baixa
qualidade de sinal 5950 kHz a 26100 kHz
Frequência Modulada (FM) incluindo RadCom 87,7 MHz a 108,0 MHz
A situação numérica do rádio, em termos de licenças concedidas, na década de
1930 pode ser aflorada a partir dos dados constantes do anuário estatístico do IBGE de
1935. Afora o fato de a maioria das empresas de radiodifusão estarem concentradas na
capital federal e em São Paulo, certas características atinentes ao padrão de controle e
propriedade das emissoras já se mostram perceptíveis desde os tempos pioneiros de
implantação do novo veículo tão promissor. Tanto o poder federal como alguns governos
estaduais controlavam emissoras de grande impacto e audiência, como, por exemplo, a
Rádio Nacional no Rio de Janeiro, ou a Rádio Inconfidência em Minas Gerais, ou então,
subsidiavam as atividades de estações educativas destinadas a um público seleto, como
no caso da emissora ligada ao Ministério da Educação, germes do que seriam mais tarde
os veículos da rede educativa oficial. Os principais órgãos da imprensa diária e as redes
privadas que então se constituíam, no âmbito da emergente indústria cultural, possuíam
90% das suas próprias estações nas grandes praças do mercado consumidor, como, por
exemplo, a Rádio “Jornal do Brasil” (RJ) e as diversas estações integradas à nascente
rede dos Diários Associados.
Quadro 3.2 - Empresas rádio-difusoras e principais característicos das respectivas estações emissoras
UNIDADES POLÍTICAS
EMPRESAS RÁDIO-DIFUSORAS
RÁDIO-DIFUSÃO CULTURAL —1935
CARACTERIZAÇÃO DAS
ESTAÇÕES EMISSORAS
Denominação Sede
Ano da
instalação
Prefixo
FREQÜÊNCIA
Quilo
ciclos Metros
Distrito Federal... Rádio Sociedade Rio de Janeiro..... Rio de Janeiro.... 1 923 P R A 2 780 385,0
Rádio Club do Brasil.................. >> >> >> 1 924 P R A 3 820 366,0
Sociedade Rádio «Mayrink Veiga...... >> >> >> 1 926 P R A 9 1 120 267,9
Sociedade Rádio Educadora do Brasil.. >> >> >> 1 927 P R B 7 900 333,0
Sociedade Rádio Philips do Brasil........ >> >> >> 1 930 P R C 6 1 160 258,6
Rádio Sociedade Guanabara....... >> >> >> 1 933 P R C 8 1 360 220,6
Sociedade Rádio Cajutí................... >> >> >> 1 933 P R E 2 1 430 209,8
Sociedade Rádio Cruzeiro do Sul......... >> >> >> 1 934 P R D 2 1 240 241,9
Rádio Jornal do Brasil S A......... >> >> >> 1 934 P R F 4 940 319,0
Rádio Tupí S A..................................... >> >> >> 1 935 P R G 3 1 280 234,4
Rádio Ipanema................................. >> >> >> 1 935 P R H 8 1 080 277,8
Inst. de Educação do Distrito Federal. >> >> >> 1 934 P R D 5 1 470 204,1
Baía ............. Rádio Sociedade da Bahia............... Salvador................ 1 924 P R A 4 1 090 275,2
Rádio Comercial da Bahia.................. >> 1 934 P R F 8 580 517,0
Rádio Club da Bahía.................. >> 1 935 P R F 6 630 476,0
Ceará................ Ceará Rádio Club.......................... Fortaleza................. 1 934 P R E 9 1 320 227,3
Minas Gerais........ Sociedade Rádio Mineira............ Belo Horizonte........... 1 931 P R C 7 690 435,0
Rádio Sociedade de Juiz de Fóra......... Juiz de Fóra.............. 1 926 P R B 3 620 484,0
Rádio Sociedade Triângulo Mineiro....... Uberaba.................. 1 935 P R E 5 1 170 256,4
Pará............. Rádio Club do Pará....................... Belém ................... 1 929 P R C 5 670 448,0
Paraná ......... Rádio Club Paranaense...................... Curitiba.............. 1 924 P R B 2 1 480 202,7
Pernambuco...... Rádio Club de Pernambuco.................... Recife............ 1 925 PRA 8 730 411,0
Rio de Janeiro.. Rádio Cultura de Campos................... Campos............. 1 934 P R F 7 1 450 206,9
Rádio Club Fluminense .................. Niterói............ 1 934 P R D 8 1 320 227,3
Rádio Sociedade Fluminense............ >> 1 935 P R E 6 670 448,0
Rio Grande do Sul. Sociedade Rádio Pelotense..................... Pelotas................ 1 928 P R C 3 580 517,0
Rádio Sociedade Gaúcha................... Pôrto Alegre........... 1 928 P R C 2 1 170 256,4
Rádio Sociedade Farroupilha............... >> 1 935 P R H 2 600 500,0
São Paulo....... Rádio Club de São Paulo .......... Capital........ 1 925 P R A 5 1 260 238,1
Rádio Educadora Paulista......... >> 1 925 P R A 6 800 375,0
Sociedade Rádio Cruzeiro do Sul ...... >> 1 927 P R B 6 1 200 250,0
Rádio Sociedade "Record"............... >> 1 928 P R B 9 1 000 300,0
Sociedade Rádio <<Cosmos........... >> 1 934 P R E 7 1 410 212,8
Rádio Difusora -São Paulo......... >> 1 934 P R F 3 960 313,0
Sociedade Rádio Cultura ................ >> 1 934 P R E 4 1 340 223,9
Rádio Tupí S. A............................... >> (*) P R G 2 740 405,0
Rádio <<Excelsior............................ >> (*) P R G 9 1 100 272,7
Rádio <<Piratininga............................. >> (*)
P R M 3 1 100 258,6
Rádio Cultura de Araraquara.... . . Araraquara......... 1 934 P R D 4 1 090 275,2
Baurú Rádio Club ..................... Baurú ................ (*) P R G 8 1 250 240,0
Soc. Rádio Educ. de Campinas Campinas ......... 1 934 P R G 9 1 170 256,4
Sociedade Rádio Mantiqueira........... Cruzeiro ......... (*) P R G 6 1 500 200,0
Rádio Club <<Hertz>>.......................... Franca ......... 1 933 P R B 5 1 480 202,7
Rádio Club Jaúense............................ Jaú . .............. (*) P R G 7 1 340 223,9
Rádio Club de Marília............... Marília .............. (*) P R I 2 1 370 —
Rádio Club de Piracicaba.................. Piracicaba ..... 1 935 P R D 6 630 476,0
Rádio Club de Rio Claro............ Rio Claro. ....... ... P R F 2 725 415,0
Rádio Club de Santos.................. Santos .... 1 926 P R G 5 720 206,9
Sociedade Rádio Atlântica............ >> (*) P R B 4 1 450 417,0
Rádio Club de Sorocaba............. Sorocaba. ... 1 934 P R D 7 1 320 227,3
Rádio Sociedade de Sorocaba.... >> 1 934 P R D 9 690 435,0
Sociedade Rádio Bandeirante....... Taubaté ...... 1 931 P R D 3 1 200 250,0
FONTE — Anuário estatístico do Brasil 1936. Rio de Janeiro: IBGE, v. 2, 1936. (*) Em organização
O rádio evolui rapidamente em todo o país, a ponto de preocupar o governo,
estimulando a criação do Departamento Oficial de Propaganda (DOP), depois
transformado no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Esse novo
departamento tinha o poder de fiscalizar e censurar a programação das emissoras de
rádio. Em 1936, entra no ar a Rádio Nacional do Rio de Janeiro (PRE8), que, com suas
transmissões em ondas médias e curtas, atingia todo o território nacional e até outros
países. Faz tanto sucesso, que é encampada pelo governo Vargas, para di vulgar o
regime político em vigor – e com qualidade artística e técnica –, uma vez que contratava
os melhores profissionais e dispunha do equipamento mais moderno.
Nasce, também, a Voz do Brasil. Criada há 75 anos, ou seja, em 1935, em plena
ditadura Vargas, numa época em que as comunicações não alcançavam a totalidade do
território nacional, o programa perpetuou-se não apenas por interesse dos presidentes e
de políticos oriundos dos grotões distantes, que passaram a utilizá-lo como canal de
comunicação com suas bases. O programa Voz do Brasil foi criado por Armando Campos,
amigo de infância de Getúlio, com a intenção de ajudar o seu amigo, colocando suas
idéias para a população escutar, e assim serem a favor de seu governo. Passou ser
transmitido em 22 de julho de 1935, com o nome de "Programa Nacional", sendo
apresentado pelo locutor Luiz Jatobá. De 1935 a 1962, foi levado ao ar com o nome de
Hora do Brasil. Em 1939 o Decreto Lei 1.915 cria a Hora do Brasil com o objetivo de
“Centralizar, coordenar, orientar e superintender a propaganda nacional, e servir como
elemento auxiliar dos ministérios, entidades públicas na parte que interessava à
propaganda nacional”. Existiam cerca de 77 emissoras de rádio no País.
A partir de 10 de novembro de 1937, com a ascensão do Estado Novo, Getúlio
Vargas passou a utilizar intensamente o programa, então chamado A Hora do Brasil, em
suas mensagens à população, como carro-chefe do antigo Departamento de Imprensa e
Propaganda, o DIP, de triste lembrança. Para atrair o publico ouvinte o Departamento de
Imprensa e Propaganda-DIP convidava artistas famosos para se apresentarem no
programa Hora do Brasil que era formado por quadros de notícias, de caráter geral,
entretenimento e informes políticos. Através desse programa o governo pretendia
personalizar a relação política com cada cidadão sem que necessitasse montar um
sistema de emissoras próprio.
Em 1938, o programa passou a ter veiculação obrigatória, somente com a
divulgação dos atos do Poder Executivo, sempre das 19 às 20 horas da noite, horário de
Brasília. Em 1962, a Lei nº 4117, que institui o Código Brasileiro de Telecomunicações e
cria a obrigatoriedade de paralisar a programação das emissoras de rádio para a
transmissão do programa “Voz do Brasil”. A partir da entrada em vigor do Código
Brasileiro de Telecomunicações, o Poder Legislativo passou a ocupar a segunda meia
hora do noticiário.
A Voz do Brasil é um noticiário radiofônico público, que vai ao ar diariamente em
praticamente todas as emissoras de rádio aberto do Brasil, às 19:00h, horário de Brasília,
fazendo parte da história de radiodifusão brasileira, além de ser o programa mais antigo
do rádio. O programa é de veiculação obrigatória em todas as rádios do país, por
determinação do Código Brasileiro de Telecomunicações. Algumas rádios, todavia,
aparadas por liminares, estão ocasionalmente desobrigadas de sua transmissão. Isso
ocorre devido a Voz do Brasil ter sido criada dentro de um contexto onde não havia
nenhuma possibilidade do Governo se comunicar com o cidadão, seja pela inexistência
de meios de radiodifusão estatal, seja pelo motivo de não terem sido alcançadas as
fronteiras mais distantes e assim informar aos brasileiros os fatos e acontecimentos da
República. Nos dias de hoje a rede de radiodifusão governamental e a radiodifusão
educativa alcança a casa das 6483 emissoras. Destaque-se ainda que as emissoras da
Rádio Nacional, pertencente ao Sistema Radiobrás, cobre com sua programação toda
“Amazônia Legal”, em ondas médias e tropicais e poderia colocar a Voz do Brasil no
horário que melhor lhe aprouvesse.
Adicionalmente, nos dias de hoje, todas as autoridades governamentais, nos três
poderes, possuem plataformas de informação na Internet, como os sites dos Ministérios,
Presidência da República, Câmara, Senado e Justiça. Os sites do Governo, notadamente
da Radiobrás e da EBC, são verdadeiras agências de notícias oficiais. Deve-se considerar
que estes sites são construídos dentro das mais modernas técnicas de comunicação e
marketing político, usando recursos de última geração, como o Twiter, por exemplo,
constituindo-se no verdadeiro “estado da arte” quando se fala em transmitir informações
com facilidade e eficiência ao cidadão.
Atualmente, os primeiros 25 minutos da Voz do Brasil são produzidos pela
Radiobrás, e gerados ao vivo, via Embratel, para todo o Brasil. Em 1995, a Voz do Brasil
entrou para o Guiness Book como o programa de rádio mais antigo do Brasil. O noticiário
também é o mais antigo programa de rádio do Hemisfério Sul. A Voz do Brasil por muitos
anos iniciou-se com a frase "Em Brasília, dezenove horas", hoje substituída para "Sete da
noite em Brasília". O tema inicial do programa é O Guarani, de Carlos Gomes, recebeu
novas versões, em samba, choro, capoeira, entre outros.
Em 1936, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro foi doada para o Ministério da
Educação que tinha como titular Gustavo Capanema, que comunicou a Roquette-Pinto
que a rádio seria incoporada ao tão temido Departamento de Imprensa e Propaganda
(DIP), órgão responsável pela censura durante a era de Getúlio Vargas. Roquette-Pinto
ficou indignado com a proposta de incorporação ao DIP e exigiu a autonomia da rádio,
para preservar a função educativa que ela tinha. Roquette Pinto ganhou a disputa, e a
rádio MEC mantém até o hoje o mesmo ideário. Consta que, ao se despedir do comando
da emissora que fundara, sussurrou chorando ao ouvido da filha Beatriz: "Entrego esta
rádio com a mesma emoção com que se casa uma filha".
Em 1936, os aparelhos de rádio já podiam ser comprados em lojas do ramo. Entre
as décadas de 1930 a 1950, o rádio viveu sua chamada Era de Ouro, como o principal
meio para divulgação de informações, artistas e talentos, junto ao Cinema. A Rádio
Record, de São Paulo, foi criada em 1931. Em 1934, surgiu a Rádio Mayrink Veiga, no
3
Fonte: Radiodifusão – uma abordagem numérica www.abert.org.br/biblioteca.
Rio de Janeiro, uma das mais importantes do país pelas três décadas seguintes. No ano
seguinte, foram criadas a Rádio Jornal do Brasil e a Rádio Tupi, duas emissoras históricas
que existem até hoje. Em 1936, aparece a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, que liderou
audiência por 20 anos e transformou os padrões de linguagem do rádio brasileiro. A
seguir um pouco da história de cada uma destas rádios.
A Rádio Record é uma estação de rádio brasileira com sede em São Paulo, SP. Faz parte da
Central Record de Comunicação e opera na frequência 1000 kHz AM. A PRB-9 foi fundada em
1927 por Álvaro Liberato de Macedo, como Rádio Sociedade Record, e passada à Paulo Machado
de Carvalho em 1931 é rebatizada com Rádio Record. Nesta época São Paulo exigia a deposição
do então presidente Getúlio Vargas, e as rádios paulistas, especialmente a Record, se
transformavam em poderosas armas. Em 23 de maio de 1932, antes das manifestações, o primeiro
passo dos estudantes foi a invasão dos estúdios da Record, chegando até a sala de Paulo Machado
de Carvalho, e ordenando que colocasse no ar a leitura de um abaixo-assinado. A rádio teve que
aderir a causa na marra. Logo leram pela Record o nome de um dos que assinavam o manifesto
contra Getúlio. Em 9 de julho de 1932, a revolução, planejada desde abril de 1931, por fim explodiu.
No mesmo dia, através dos acordes do dobrado "Paris Belfort" que ficou como a marcha da
Revolução Constitucionalista de 32, fizeram que César Ladeira eloquentemente levasse ao ar
mensagens patrióticas, que aclamavam o espírito paulista contra os getulistas. Guilherme de
Almeida escreveu poesias para que o locutor declamasse. Por conta da revolução, Ladeira ficou
conhecido como "A Voz da Revolução", e a Record, como "A Voz de São Paulo". Com a
transmissão de shows musicais com artistas e cantores famosos como Carmem Miranda e
Francisco Alves, alcança a liderança nos anos 30, compartilhada com a Rádio Nacional. Sob a
direção de Chico Paes de Barros, esteve em primeiro lugar de audiência durante as décadas de 70
e 80, tendo em sua programação grandes nomes como Zé Béttio, Gil Gomes e Eli Corrêa. Em
parceria com a Rádio Gazeta, foi uma das pioneiras na transmissão de jogos de futebol em
"dobradinha". A TV Record, entra em grave crise financeira no final da década de 80, perdendo
seus comunicadores para outras estações e o primeiro lugar em audiência para a Rádio Globo, e
posteriormente o segundo para a Rádio Capital. Em março de 1990, o controle acionário da rádio,
assim como o da TV, passa para a Igreja Universal do Reino de Deus.
A Rádio Mayrink Veiga é o nome de uma rádio carioca fundada em 1926. Foi o reduto de novos
talentos e ícones da chamada Era do Rádio. Teve o radialista paulista César Ladeira como diretor
artístico a partir de 1933. Foi líder de audiência nos anos 1930, até o surgimento da Rádio Nacional
do Rio de Janeiro. Na emissora estrearam Carmem Miranda e sua irmã Aurora. A rádio foi fechada
em 1964, após o golpe militar, por ter entre seus sócios o ex-governador Leonel Brizola, cunhado do
presidente deposto João Goulart.
A Rádio Jornal do Brasil foi criada em 1935. O Jornal do Brasil não hesitou em completar a sua
organização com um aparelhamento radio-difusor ultramoderno. “E esse imperativo avultava
evidentemente de importância tratando-se de uma estação de rádio criada como parte integrante de
uma empresa jornalística, com as tradições e responsabilidades do JB, cuja ação teria de
desdobrar-se sem fronteiras de tiragem, penetrando em todos os lares e levando a todos os ouvidos
atentos a mesma escrupulosa fidelidade aos preceitos éticos em que por um espaço de cinco
décadas tem-se mantido o programa deste jornal.” Anunciava no jornal no dia de sua inauguração.
Capaz de louvar aos habitantes do Brasil onde quer que se encontrem sob a forma jornalística e
sob os aspectos culturais da literatura e da música. Durante a trasmissão inaugural, o microfone da
PRF4 foi ocupado de dia e à noite, por destacadas personalidades do meio cultural, representantes
das classes e instituições que, com saudavam da Rádio “Jornal do Brasil” aos ouvintes de todo o
territorio brasileiro.” Foi ouvida a palavra erudita de várias personalidades entre elas os Srs.: Conde
de Afonso Celso (presidente a ABL); Pedro Celso Ernesto (Prefeito do Distrito Federal), Ministro
Edmundo Lins (Presidente da Corte Suprema), Conego Olimpio de Melo (Presidente da Camara
Municipal) e Prof. Fernando Magalhães.
A Rádio Tupi do Rio de Janeiro foi fundada no dia 25 de setembro de 1935 pelas Emissoras e
Diários Associados do Brasil de Assis Chateaubriand. O apelido da rádio era "Cacique do ar". Mas a
primeira apresentação da rádio foi no dia 15 de setembro do mesmo ano com a execução do Hino
Nacional por um coral regido pelo maestro Heitor Villa-Lobos. Na década de 1940 a Rádio Tupi
tinha um elenco com grandes nomes da música brasileira como Sílvio Caldas, Jamelão, Elizeth
Cardoso, Dalva de Oliveira, Dorival Caymmi, Vicente Celestino etc, tendo também um elenco de
rádio teatro com nomes como Paulo Gracindo, Yoná Magalhães, Maurício Shermann, Orlando
Drummond etc. O jornalismo da Rádio Tupi foi importante no final da Segunda Guerra Mundial
sendo a primeira a anunciar o final da guerra. O "Grande Jornal falado Tupi" era um dos mais
ouvidos do Rio de Janeiro. Em 1943 um incêndio atingiu a Rádio Tupi, a emissora perdeu boa parte
dos seus arquivos musicais. A Rádio conseguiu se recuperar e em 1950 inaugurou um grande
auditório, sendo considerado o "Maracanã dos auditórios". Lançou grandes sucessos populares
como Parabéns pra Você, advindo de um concurso promovido por Almirante e vencido por Bertha
Celeste Homem de Mello e Aquarela do Brasil. No esporte a rádio se destacava com nomes como
Ary Barroso, Oduvaldo Cozzi, Cezar Rizzo, etc. Em 1959 a Rádio inaugurava seu transmissor de
100 kw com um show da cantora Ângela Maria no auditório da emissora. Em 1960 foi criado o mais
tradicional programa da rádio que está no ar até hoje. A "Patrulha da Cidade". O programa foi
idealizado pelo jornalista Afonso Soares. O programa aborda os assuntos policiais, muitas vezes
com uma pitada de bom humor. Hoje, o programa é dirigido, roteirizado e apresentado pelo
jornalista Coelho Lima, acompanhado pelo comunicador Garcia Duarte e grande elenco de rádio
atores. Durante a década de 1970 a rádio passou por várias crises (Uma delas culminou no
fechamento da TV Tupi ), mas a rádio conseguiu se recuperar, lançando diversos programas, entre
eles o humorístico A Turma da Maré Mansa, e é uma das maiores rádios do Rio de Janeiro. No dia
25 de setembro de 2005, dia dos 70 anos da Super Rádio Tupi, foi inaugurada o primeiro
transmissor digital do rádio brasileiro que foi instalada na ilha de Itaóca, em São Gonçalo.
Atualmente a rádio dedica-se ao entretenimento, ao jornalismo e à cobertura esportiva.Esta, por sua
vez, tem grande destaque, com amplas coberturas de jogos de futebol, por exemplo. Em 1 de junho
de 2009, passou a ser transmitida também pelo FM, na frequência 96,5 MHz, que antes pertencia à
Nativa FM. Por sua vez, a mesma ocupou os 103,7 da extinta rádio Antena 1 Rio.
A Rádio Nacional do Rio de Janeiro pertence à rede Rádio Nacional, do sistema Radiobrás da
estatal Empresa Brasil de Comunicação. A emissora foi a primeira a ter alcance em praticamente
todo o território do Brasil. Tinha, então, o prefixo PRE-8, com o qual também era identificada pelos
ouvintes. Quando foi criada, em 12 de setembro de 1936, a transmissão teve início às 21 horas,
com a voz de Celso Guimarães, que anunciou: "
Alô, alô Brasil! Aqui fala a Rádio Nacional do Rio de
Janeiro!
". Depois, vieram os acordes de "Luar do Sertão" e uma bênção do Cardeal da cidade.
Tornou-se um marco na história do rádio brasileiro. Até a 1975 operava em 980 kHz e, desde então,
opera na faixa de 1130 kHz, com o prefixo ZYJ-460. Inicialmente uma empresa privada pertencente
ao grupo jornalístico "A Noite", foi estatizada pelo Estado Novo de Getúlio Vargas em 8 de março de
1940 que a transformou na rádio oficial do Governo brasileiro. Mais interessado no poder e na
penetração do rádio como instrumento de propaganda o Estado Novo permitiu que os lucros
auferidos com publicidade fossem aplicados na melhoria da estrutura da rádio o que permitiu que a
Rádio Nacional mantivesse o melhor elenco de músicos, cantores e radioatores da época, além da
constante atualização e melhoria de suas instalações e equipamentos. Em 1941, a Rádio Nacional
apresentou a primeira radionovela do país, "Em busca da Felicidade" e, em 1942, inaugurou a
primeira emissora de ondas curtas, fato que deu aos seus programas uma dimensão nacional. A
rádio também contava com programas de humor como: "Balança mais não cai" que contava com
Paulo Gracindo, Brandão Filho, Walter D’Ávila, entre outros, e "PRK-30" que simulava uma
emissora clandestina que "invadia" a freqüência da Rádio Nacional, o programa era escrito, dirigido
e apresentado por Lauro Borges e Castro Barbosa, ele parodiava outros programas, inclusive da
própria Rádio Nacional, propagandas e até cantores e músicas. Foi pioneira também no
radiojornalismo quando, em 1941, durante a II Guerra Mundial, criou o Repórter Esso. Criado
basicamente para noticiar a guerra sob o ponto de vista dos aliados, o Repórter Esso acabou
criando um padrão inédito de qualidade no radiojornalismo brasileiro que, até então, limitava-se a ler
no ar as notícias dos jornais impressos. Com o seu modo austero e preciso de noticiar, o Repórter
Esso fez escola e serviu de modelo para diversos outros programas de notícias que se seguiram,
até mesmo na televisão. O Repórter Esso ficou no ar até 1968 e seu slogan era: "a testemunha
ocular da história". Dos anos 1930 até o final dos anos 1950, o rádio possuía um enorme "glamour"
no Brasil. Ser artista ou cantor de rádio era um desejo acalentado por milhares de pessoas,
especialmente os jovens. Pertencer aos "cast" de uma grande emissora como a Rádio Nacional era
suficiente para que o artista conseguisse fazer sucesso em todo o país e obtivesse grande destaque
e prestígio. Atualmente, parte significativa do acervo da Rádio encontra-se no Museu da Imagem e
do Som, do Rio de Janeiro. Trata-se da "Coleção Rádio Nacional", constituída por 31 mil discos de
78 rpm, mais os discos de acetato referentes a 5.171 programas, 1.873 de gravações musicais
inéditas, 88 de prefixos, 82 de "jingles" e 7 de efeitos, todos já copiados em CDs. Há, ainda, cerca
de 20 mil arranjos e 1.836 "scripts".
Em 1937, mais da metade das sessenta e três estações de rádio havia sido
instalada nos últimos três anos precedentes, estando em mãos de empresários privados
90% dos veículos dessa poderosa e florescente mídia. Tamanha expansão recente
refletia mudanças tecnológicas de ampla repercussão, como, por exemplo, a introdução
dos rádios de válvula na década de 1930, o que propiciou o barateamento dos custos de
produção dos aparelhos e, em conseqüência, impulsionou o crescimento do público
ouvinte. Os maciços investimentos particulares também foram estimulados pelo
licenciamento oficial para publicidade nessa mídia, de início fixada em 10% da
programação diária, tornando o rádio um veículo comercial capaz de atrair e converter
alguns grandes anunciantes (Colgate / Palmolive, etc.) em produtores de programas
(radionovelas e seriados).
Em 1937, a capital paulistana e as cidades-pólos do emergente mercado do interior
paulista abrigavam 45% das estações brasileiras. A cidade do Rio de Janeiro dispunha de
treze emissoras, incluindo a Rádio Nacional, emissora líder e responsável pela difusão
das novelas que constituíam desde então o produto típico e de maior impacto naquela era
tão marcante e definidora dos estilos e linguagens da indústria cultural brasileira. Os
dados evidenciam os primeiros sinais de constituição de grandes empreendimentos
empresariais a partir do controle conjugado de importantes órgãos de imprensa e de
estações de rádio líderes em potência de emissão e audiência: Jornal do Brasil/jornal e
emissora no Rio de Janeiro; Diários Associados/jornais e emissoras da rede Tupi no Rio,
São Paulo, etc.
Rede Bandeirantes de Rádio ou Rádio Bandeirantes (PRH-9) também conhecida como Band AM e
Band FM (em São Paulo) ,é uma rede de emissoras de rádio com sede na cidade de São Paulo, e
foi inaugurada no dia 6 de maio de 1937. Foi na voz de Joaquim Carlos Nobre que a Rádio
Bandeirantes São Paulo, a cabeça da rede, entrou no ar pela primeira vez: "Boa Noite, Senhoras e
Senhores. Está no ar a Rádio Bandeirantes, a nova e esperada emissora de São Paulo". Os
primeiros locutores eram Joaquim Carlos Nobre, Tito Lívio Fleury Martins, Mário de Carvalho Araújo
e Plínio Freire Campello. Muitos seriam os locutores que passariam por essa poderosa rádio, que,
depois de muitos anos, adotou o estilo Jornalismo-Esporte, no qual é uma das rádios mais
poderosas do Brasil. Ela foi controlada por Paulo Machado de Carvalho (atualmente Rede Jovem
Pam), que a vendeu a para Adhemar de Barros. Depois, o grupo empresarial teve como dono o
genro de Barros, João Jorge Saad. Hoje, a rádio integra a Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão
- que inclui também a Rede BandNews FM de rádio e a Rede BandNews de TV por assinatura,
ambas dedicadas ao jornalismo - de propriedade atualmente do neto de Adhemar de Barros,
Johnny Saad, que preside o grupo do qual a rádio faz parte.
Quadro 3.3 - RADIODIFUSÃO CULTURAL — 1937 (30-VI) - Empresas rádiodifusoras e principais características das estações emissoras
UNIDADES
FEDERADAS
EMPRESAS RADIODIFUSORAS
CARACTERIZAÇÃO
DAS ESTAÇÕES EMISSORAS
Designação Sede
Ano da
instalação
Prefixo FREQÜÊNCIA
Quilo
ciclos
Metros
Distrito Federal
Inst. de Educ. do Distr.Fed. (da Pref.Mun.). Rio de Janeiro 1934 P R D 5 1 400 214,3
Ministério da Educação e Saúde (1)..................................... Rio de Janeiro 1923 P R A 2 800 375,0
Rádio Clube do Brasil............................................................ Rio de Janeiro 1924 P R A 3 860 348,8
Rádio Sociedade «Guanabara».......................................... Rio de Janeiro 1933 P R C 8 1 360 220,6
Radio«Jornal do Brasil, S A»............................................... Rio de Janeiro 1934 P R F 4 940 319,1
Rádio Sociedade «Mayrink Veiga»....................................... Rio de Janeiro 1926 P R A 9 1 220 245,9
Rádio «Tupy, S A»................................................................ Rio de Janeiro 1935 P R G 3 1 280 234,4
Rádio Sociedade «Vera Cruz».......................................... Rio de Janeiro 1937 P R E 2 1 430 209,8
Rádio Transmissora Brasileira.............................................. Rio de Janeiro 1936 P R E 3 1 180 254,2
Rádio Ipanema, S. A. ............................................................... Rio de Janeiro 1935 P R H 8 1 130 267,9
Sociedade «Rádio Cruzeiro do Sul».................................. Rio de Janeiro . 1934 P R D 2 1 240 241,9
Sociedade Rádio Educadora do Brasil................................ Rio de Janeiro 1927 P R B 7 900 333,3
Sociedade Rádio Nacional..................................................... Rio de Janeiro 1937 P R E 8 980 306,1
Baía Rádio Sociedade da Baía...................................................... Salvador 1924 P 11 A 4 740 405,4
Ceará Ceará, «Rádio Clube».......................................................... Fortaleza 1934 P R E 9 1 320 227,3
Minas Gerais
Rádio «Inconfidência» (do Govêrno Estadual)....................... Belo Horizonte 1937 P R K 3 880 340,9
Sociedade Rádio «Guaraní».............................................. Belo Horizonte 1936 P R H 6 1 340 230,8
Sociedade Rádio Mineira....................................................... Belo Horizonte 1931 P R C 7 690 434,8
Sociedade Rádio Cultura de Poços de Caldas Poços de Caldas 1936 P B H 5 1 160 206,9
Rádio Sociedade «Triângulo Mineiro»..................................... Uberaba 1935 P 11 E 5 1 390 256,4
Pará Rádio Clube do Pará............................................................. Belém 1929 P R C 5 670 447,8
Paraíba Rádio do Estado da Paraíba (do Govêrno Est.) João Pessoa 1937 P R I 4 1 110 277,8
Paraná Rádio Clube Paranaense.......................................................... Curitiba 1936 P R B 2 1 480 202,7
Pernambuco Rádio Clube de Pernambuco................................................. Recife 1925 P R A 8 720 416,7
Rio de Janeiro
Rádio Clube Fluminense............................................................ Niterói 1934 P R D 8 1 320 227,3
Rádio Sociedade Fluminense.............................................. Niterói 1935 P R E 6 1 470 204,1
Rádio Cultura de Campos......................................................... Campos. 1934 P R F 7 1 330 206,9
Petrópolis Rádio Difusora, S A................................................ Petrópolis 1936 P R D 3 1 480 202,7
Rio Grande do Sul
Emprêsa Rádio Difusora Portoalegrense.......................... Pôrto Alegre 1936 P R F 9 1 440 208,3
Rádio Sociedade Gaúcha.................................................... Pôrto Alegre 1928 P R C 2 680 441,2
Sociedade Rádio «Farroupilha».......................................... Pôrto Alegre 1935 P R H 2 600 500,0
Sociedade Difusora «Rádio Cultura»................................. Pelotas 1928 P R H 4 1 320 227,3
Santa Catarina Rádio Clube de Blumenau................................................... Blumenau 1936 P R C 4 1 330 219,0
São Paulo
Rádio Clube de São Paulo..................................................... São Paulo 1925 P R A 5 1 260 238,1
Rádio Sociedade «Record»................................................ São Paulo 1928 P R B 9 1 000 300,0
Rádio Tupan, S A .................................................................. São Paulo (2) P R G 2 1 040 2 885,0
Sociedade Bandeirante de Rádio Difusão.......................... São Paulo 1936 P R H 9 840 357,1
Sociedade Rádio «Cosmos»............................................... São Paulo 1934 P R E 7 1 410 212,8
Sociedade Rádio Cultura A Voz do Espaço São Paulo 1934 P R E 4 1 300 223,9
Sociedade Rádio Cruzeiro do Sul........................................ São Pardo 1927 P R B 6 1 200 250,0
Sociedade Rádio Educadora Paulista................................. São Paulo 1925 P R A 6 760 394,7
Sociedade Rádio «Excelsior»............................................ São Paulo 1936 P R G 9 1 100 272,7
Sociedade Rádio Piratininga............................................... São Paulo (2) P R H 3 620 25,9
Sociedade Rádio Cultura de Araraquara Araraquara 1934 P R D 4 1 370 275,2
Baurú Rádio Clube Baurú 1936 P R G 8 1 210 208,3
Sociedade Rádio Educadora de Campinas Campinas 1934 P R C 9 1 170 256,4
Sociedade Rádio Mantiqueira Cruzeiro 1936 P R G 6 1 440 208,3
Rádio Clube "Hertz" Franca 1933 P R B 5 1 240 202,7
Rádio Clube de Jaboticabal Jaboticabal 1936 P R G 4 1 250 204,1
Rádio Sociedade Jauense Jaú 1936 P R G 7 1 010 508,5
Rádio Clube de Marília Marilia 1936 P R I 2 1 090 219,0
Rádio Clube de Piracicaba Piracicaba 1935 P R D 6 820 476,2
Rádio Clube de Ribeirão Preto Ribeirão Preto 1925 P R A 7 730 447,8
Rádio Clube de Rio Claro Rio Claro 1937 P R F 2 1 460 205,5
Rádio Rio Preto, S. A Rio Preto 1936 P R B 8 640 435,0
Sociedade Rádio Atlântica Santos 1936 P R G 5 580 517,2
Rádio Club de Santos Santos 1926 P R B 4 1 450 206,9
Rádio Club de Sorocaba Sorocaba 1934 P R D 7 1 080 225,6
Radio Sociedade de Sorocaba Sorocaba 1934 P R D 9 970 434,8
FONTE
— Anuário estatístico do Brasil 1937. Rio de Janeiro: IBGE, v. 3, 1937. (1) Doada, em 1936, pela Radio Sociedade do Rio de Janeiro. (2) Em
construção.
A partir de 1939, com o início da Segunda Guerra Mundial, o rádio se transformou
num importante veículo para difundir fatos diários e notícias do front. Surgia o
radiojornalismo, sendo o Réporter Esso um marco dessa época. O rádio, apesar das
críticas dos puristas que o acusavam de não possuir a mesma credibilidade da imprensa
escrita, marcou profundamente a história da vida artística brasileira, inaugurando
tendências e fazendo escola. Grandes nomes da nossa música surgiram no rádio, como
Carmem Miranda, Silvio Caldas, Noel Rosa, Moreira da Silva, Ciro Monteiro, Francisco
Alves, Orlando Silva, Emilinha Borba, Marlene.
A história das rádios FM se inicia em 1939 quando Armstrong começa a operação
da primeira FM em Alpine, Nova Jersey, nos Estados Unidos. No Brasil entretanto, ela iria
aparecer apenas nos anos 1960. A FM permite uma recepção em alta-fidelidade
(qualidade técnica), mas seu alcance é pequeno (quase o mesmo da TV). Em 1942 os
primeiros emissores em freqüência modulada (FM) são produzidos nos EUA, pela
General Electric.
A Segunda Guerra Mundial praticamente estabelece o rádio no campo jornalístico,
face aos recursos de comunicação então existentes e ao fato de a transmissão
radiofônica superar em agilidade qualquer outro meio. Os gravadores magnéticos,
utilizando um fio metálico, representaram um recurso apreciável não só para uso das
forças armadas, como para os jornalistas que trabalhavam no rádio. Foram, também,
precursores dos equipamentos que apareceram no após-guerra, enriquecendo a técnica
de registro, edição e preservação dos acontecimentos de significado histórico – sempre
com a indispensável presença do rádio e dos profissionais do rádio.
Em 1940, o grupo de empresas ao qual pertencia a Rádio Nacional foi incorporado
ao patrimônio do governo e a emissora passou para o controle do Estado. Diferentemente
do tratamento dispensado a outras emissoras estatais a Rádio Nacional continuou a ser
administrada como uma empresa privada, sendo sustentada financeiramente pelos
recursos oriundos da venda de publicidade. Entre os anos de 1940 e 1946 a Rádio
Nacional tornou-se uma campeã de audiência e captadora de altos investimentos
publicitários, como foi o caso da chegada da Coca-cola ao mercado brasileiro - a empresa
investiu uma quantia significativa na época para colocar no ar “Um milhão de melodias”,
um programa criado exclusivamente para o lançamento do produto. Na década de 40 as
empresas multinacionais passam a ter no rádio um aliado para sua entrada no mercado
brasileiro - como já vinha ocorrendo em outros países das Américas. Em 1941, era
lançada na Rádio Nacional a primeira radionovela no Brasil: Em busca da Felicidade. Em
seguida, foi a vez da novela “O Direito de Nascer”. Segundo o sociólogo brasileiro Renato
Ortiz as radionovelas eram utilizadas nos Estados Unidos e em alguns países da América
Latina como estratégia para o aumento na venda de produtos de higiene e de limpeza.
Em busca da felicidade era um original cubano de Leandro Blanco adaptado por Gilberto
Martins a pedido da Standart Propaganda, que além de patrocinar o programa escolheu o
horário matinal para seu lançamento. A experiência parecia ousada, o horário escolhido
era de baixa audiência, entretanto o patrocinador criou uma estratégia para avaliar a
receptividade do novo gênero oferecendo um brinde a cada ouvinte que enviasse um
rótulo do creme dental Colgate. Logo no primeiro mês de promoção chegaram 48.000
pedidos comprovando a eficácia comercial da nova programação. Com o sucesso do
gênero logo surgem novas radionovelas em outras faixas horários. A Nacional se
transformou em uma verdadeira fábrica de ilusões, suas novelas marcaram época,
forjaram hábitos e atitudes, despertaram polêmicas e fizeram muito sucesso junto ao
público ouvinte.
No setor privado de então, dominam empresários como Assis Chateaubriand, dos
Diários e Emissoras Associados, e Paulo Machado de Carvalho, da Record. Na década
seguinte, entrariam na cena radiofônica as famílias Saad, em São Paulo, e Marinho, no
Rio de Janeiro. A maioria destes gestores caracteriza-se como capitães de indústria,
como observa Renato Ortiz (1994, p. 57), usando a expressão de Fernando Henrique
Cardoso (1972, p. 142) para identificar os dirigentes industriais que se pautam pela
obtenção de favores governamentais para a manutenção de seus negócios. É
Chateaubriand, no entanto, que o mesmo autor define como “tipo ideal do capitão de
indústria” (Ortiz, 1994, p. 58). O dono dos Associados fundamenta a realização dos seus
empreendimentos em acordos políticos, guiando-se mais por sua própria experiência e/ou
instinto do que pelo cálculo racional das possibilidades do mercado.
De outra parte, como o fazem os capitães de indústria, de modo geral, vê o Estado
a partir de uma posição ambígua. Ao mesmo tempo em que defende a iniciativa privada
contra a intervenção do poder público, Chateaubriand tem consciência da necessidade de
grandes quantias de capital para o crescimento dos seus negócios. Quantias cuja fonte
mais abundante na situação brasileira de então é o Estado.
A Rádio Nacional lança o mais importante jornal do rádio brasileiro o “Repórter
Esso”, às 12h45min do dia 28 de agosto de 1941. A primeira notícia era a de ataques de
aviões da Alemanha à Normandia, durante a 2ª Guerra Mundial. A notícia foi lida por
Romeu Hernandez. Mas quem marcou a história do “Repórter Esso” foi o gaúcho Heron
Domingues: Em 1942 a Rádio Nacional, sempre na vanguarda, inaugurou a primeira
emissora de ondas curtas do país passando a transmitir seus programas para todo o
território nacional, o que a torna uma estação ainda mais atrativa para os patrocinadores.
A qualidade técnica dos programas e a contratação de profissionais altamente
qualificados garantiu a Nacional altíssimos índices de audiência e transformaram a
emissora em um modelo a ser seguido. Dois setores garantiam o sucesso da emissora
em todo o território nacional: as radionovelas e os programas musicais. Em 1942, a Rádio
Tupi de São Paulo também começa a sua tradição jornalística, colocando no ar o “Grande
Jornal Falado Tupi”, criado por Coripheu de Azevedo Marques e Armando Bertoni, com
uma hora de duração diária. O “Repórter Esso” e o “Grande Jornal Falado Tupi” foram
marcos importantes para que o radiojornalismo brasileiro fosse encontrando a sua
definição, os caminhos de uma linguagem própria para o meio, deixando de ser apenas a
“leitura ao microfone” das notícias dos jornais impressos. (Ortriwano, 1985: 21). No ano
de 1942, Chacrinha foi para a Rádio Difusora Fluminense.
A Rádio Globo, inaugurada pelo Roberto Marinho, é a primeira emissora do Sistema Globo de
Rádio criada em 2 de dezembro de 1944. A emissora cobriu com seu "O Globo no Ar " a queda do
presidente Getúlio Vargas em 1945. Na década de 1950 a emissora trazia em seu auditório grandes
nomes da música brasileira. O Repórter Esso passou a ser exibido nas ondas da Globo na década
de 1960 até 1968. Nessa década também o rádio em AM passou a ganhar suas características
atuais, deixando de lado os programas de auditório e dando lugar a locutores comunicativos e
populares. Um deles era Haroldo de Andrade. Até o ano da criação da CBN, a Rádio Globo era
basicamente jornalística. A partir daí começa a ganhar seu lado eclético/popular.
O chamado período “áureo do rádio brasileiro” concentra-se entre 1945 até os
últimos anos da década de 50. É importante ressaltar que a expressão “áureo” está
relacionada a um conjunto de elementos de época, não significa que o rádio daquele
período possuísse mais ouvintes do que o de hoje, até mesmo porque tal fato seria
estatisticamente impossível pois a população brasileira atual é numericamente muito
superior à da época e o número de aparelhos produzidos se multiplica velozmente
(principalmente pelo fenômeno dos aparelhos portáteis de uso individual). Nos anos 40 e
50, o rádio possuía glamour, era considerado como uma espécie de Hollywood brasileira.
Ser cantor ou ator de uma grande emissora carioca ou paulista era o suficiente para que o
artista conseguisse sucesso em todo o país, obtivesse destaque na imprensa escrita e até
mesmo freqüentasse os meios políticos (como um convidado especial ou mesmo como
candidato a algum cargo político). Normalmente as turnês nacionais desses astros eram
concorridíssimas, fazendo do maior sonho de muitos jovens de todo o país, o de se tornar
artista de rádio - seria o correspondente ao desejo de hoje, de se tornarem artistas de
televisão.
Com o fim da 2ª Guerra Mundial, as indústrias de bens de consumo retomaram seu
crescimento e alguns dos produtos já disponíveis nos Estados Unidos e na Europa desde
o início do século começaram a chegar ao Brasil. Entre os anos de 1945 e 1950 ocorreu
um processo de crescimento acelerado do setor radiofônico como um todo. Assiste-se ao
surgimento novas emissoras de rádio, ao aperfeiçoamento dos equipamentos (inclusive
por determinação legal) e a ampliação do número de estações de ondas curtas. Este novo
quadro, que se configurou no início dos anos 1950, criou uma situação de favorecimento
aos patrocinadores que possuíam um campo de atuação nacional. Para uma melhor
visualização do processo vejamos os dados estatísticos de crescimento das emissoras
brasileiras:
Na programação de uma emissora, os comerciais eram tão importantes quanto os
programas e, por isso, deviam ter excelente qualidade sonora. Para garantir que
emissoras diferentes veiculassem a mesma propaganda, um disco com 6 ou 7 faixas
iguais era produzido e distribuído pelas emissoras de todo o país. O material do disco de
78 rotações (shellac) é substituído pelo PVC (policloreto de vinila) e com sulcos mais
próximos pode gravar até 23 minutos por lado com melhor qualidade. Porém o padrão hi-fi
(alta fidelidade sonora) não pode ser aplicado às emissoras de rádio de amplitude
modulada (AM), monocanais e de qualidade sonora limitada.
A expansão acelerada da rede de estações difusoras de rádio persiste na década
seguinte, alcançando um total de 249 estações no País no final da década de 40, sendo
que 58% das novas emissoras foram criadas entre 1936 e 1945. São Paulo logo assumiu
a posição de liderança nessa mídia, passando a deter agora 38% das emissoras, seguido
por Minas Gerais (16%) e pela capital federal (12%). Em 1958, os estados da região Sul-
Sudeste, liderados por São Paulo com 30% desse resultado, num momento em que já se
encontravam instaladas seis estações de televisão, com transmissões nas cidades do Rio
de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.
A década seguinte seria o período de glória do rádio brasileiro. O auge do rádio no
Brasil ocorreu a partir dos anos 40, quando o país assiste o surgimento de ídolos, novelas
e revistas a expor o meio artístico. Dessa época são nomes como Mário Lago, Cauby
Peixoto, Emilinha Borba, Paulo Gracindo, Janete Clair e muitos outros, que eram
retratados na Revista do Rádio, de Anselmo Domingos Surge o radiojornalismo, com o
“Repórter Esso”, “O Grande Falado Tupi”, e “O Matutino Tupi” e a radionovela, sendo a
pioneira “Em busca da Felicidade”. A invenção do Transistor, em 1947, torna a
comunicação mais ágil e possibilita o “ao vivo” da rua e receptores sem tomadas. Com a
invenção do transístor aconteceu uma revolução na radiodifusão, apareceram os
receptores portáteis e o rádio passou a substituir os jornais como meio de veiculação de
notícias, principalmente em países de grande território e população dispersa.
Autores como Adorno e Horkheimer descrevem a orientação do conteúdo é dirigida
por uma motivação comercial em que a lógica do lucro suplanta a da arte, situação,
obviamente, comum ao rádio como negócio. Em vários pontos do país, no entanto, até os
anos 40, o mercado publicitário ainda engatinha. De pequenas proporções, é alimentado
por verbas do comércio e da indústria local, além, estas sim significativas, das grandes
contas – o capital internacional que amplia sua presença no país durante e após a
Segunda Guerra Mundial. Mesmo assim, baseado no espetáculo das novelas,
humorísticos e programas de auditório, parece haver um esboço de indústria de
radiodifusão sonora que irá se desenvolver ao longo dos anos 1950 nas principais
cidades do país.
O perfil do pessoal artístico no rádio brasileiro, na década de 1950, oferece pistas
reveladoras dos programas e gêneros de maior audiência, a maioria deles tendo sido
reciclados e readaptados para inserção na grade da programação televisiva nas décadas
subseqüentes. A atividade radiofônica se apoiava no tripé de novelas e seriados,
programas de auditório e de humor, a que correspondiam os elencos de atores, cantores,
músicos, locutores e animadores, desde então amarrados às emissoras por contratos de
exclusividade, num clima de acirrada concorrência e emulação entre as estações de
maior audiência, como, entre as principais, as rádios Nacional, Tupi e Mayrink Veiga, no
Rio de Janeiro, Tupi e Difusora em São Paulo.
Esse período de ouro entrará em declínio no final do anos 1960 com o advento da
televisão, que iniciaria suas primeiras transmissão no Brasil no ano de 1950. Os artistas
do Rádio migrariam para a TV, os programas de humor seriam substituídos por música e
as novelas e programas de auditório que dariam lugar a serviços de utilidade pública.
Em 1960, ao lado das 735 emissoras de rádio, incluindo as primeiras dez estações
de freqüência modulada, o País abrigava quinze emissoras de televisão. Enquanto a
vertebração empresarial do rádio redundou na montagem de algumas redes hegemônicas
detendo controle sobre as filiadas – os Diários Associados de Assis Chateaubriand, por
exemplo. Os canais de televisão ainda se encontravam num estágio incipiente de
implantação e ajustes, no interior de uma indústria cultural ainda dominada pelo
investimento publicitário na mídia radiofônica. No curto espaço de três anos (1963),
contudo, ao lado das 915 estações de rádio filiadas a 718 grupos e redes empresariais,
entre as quais se encontram 38 estações de freqüência modulada (FM). No ano de 1970,
os estados da região Sul-Sudeste, liderados por São Paulo (26%), abrigavam 54% das
1006 estações de rádio, devendo-se, ainda, salientar a notável expansão da cobertura do
veículo nos Estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais (respectivamente,
10%, 12% e 11%)61.
Quadro 3.4 - Domicilio com acesso ao serviço (IBGE - VII Recenseamento Geral - 1960 )
Totais Total domicílios (milhão) Domicílios urbanos Domicílios rurais
Total domicílios 13.497.823 % 6.350.126 % 7.147.697 %
Iluminação elétrica 5.201.521 38,5% 4.604.057 72,5% 597.464 8,4%
Geladeira 1.570.924 11,1% 1.479.299 15,8% 91.625 1,3%
Rádio 4.776.300 35,4% 3.912.238 61,6% 864.062 12,1%
Televisão 621.919 4,3% 601.552 9,5% 20.367 0,3%
Como se sabe, os primeiros emissores em frequência modulada (FM), são
lançados na década de 40 e produzidos nos EUA, pela General Electric. O sistema de FM
permite uma recepção em qualidade técnica, mas seu alcance é menor comparado ao de
amplitude modulada (AM). Mas, apesar do longo alcance, há algumas limitações de
qualidade. No Brasil, nos anos de 1960, começam a operar as primeiras emissoras em
FM – frequência modulada. Inicialmente fornecem “música ambiente” para assinantes
interessados em trocar os seus artistas e programas de humor de sucesso por músicas
inseridas em sua programação. As novelas e também os programas de auditório deram
espaço aos serviços de utilidade pública.